11.12.09

Lembranças do cárcere


Uma vez quando era bem pequeno,
Três anos no máximo,
Estava a sós com uma mulher que cuidava da casa,
Carmelita!

E eis que a cuja,
Não sei por que cargas d’água,
Me tranca no quarto de janelas fechadas,
Em plena tarde ensolarada.

Pra mim, um cototó branquelinho,
de óculos e cabelos pixaim enroladinho,
era inconcebível, por exemplo,
acender a luz do quarto em plena tarde ensolarada.

Estava preso enton,
Sufocado num quarto escuro com frestas de luz dourada.
Gritei, chorei, esperneei, caguei no chão, pisei e andei,
A dita cuja nada!

Foi minha primeira solitária.

Outra vez, já adolescente pródigo,
Me vi cercado por um banheiro escuro,
Num hotel de fim de mundo,
Um pé de chinelo liso e tinha acabado a cocaína.

Essa foi minha segunda solitária.

Já a terceira não é minha,
mas sei que ocorreu, ocorre o ocorrerá,
potencialmente a todos que andam por entre
o dança entre o bem e o mal.

Pois lá está ele, o velho revolucionário,
O mártir desavisado,
O engajado herói,
Mesmo os piores assassinos e ladrões.

O corpo fechado.