28.6.13

Casinha


da árvore
Um lugar para

montar lego,
jogar videogame,
gravar paródias da night,

praticar rizomas,
filiações e alianças

espaço utópico por metro cúbico

Microfenômenos do acaso


Observador peripatético, em movimento
observação fragmentada, dos sentidos
os orifícios, multilateral concepção

da presa e da caça,
os acordos e as trapaças,
os contentos e a decepção

Memória seletiva, de critérios.
magníficas cicatrizes,
maquinantes artifícios

de caos desejos,
encontro e solidão

27.6.13

Black power


Plantação do submundo
moldura barroca
dimensão plural

do roots de Bob
ao dub de Zion!
passando por Sarará crioulo

Memorável (antologia)


Fogo
Folha
Asa
Gota

Terra
Eva
Queda
Guerra

Lilith os espera

Escurecer
Iluminar
Ontologia

Anunciação

26.6.13

Felina


Realeza luxúria
matadora beleza
Inocência ferina
cidade baixa sedução

Cruzando muros
em cima de telhados
Espontânea rebeldia
adorável solidão

Calcogravura


Fios de poste,
eletricidade conduzida,
recortando o céu anil

pássaros empoleirados
tênis velho e pipa
cidade a mil

para Stefanie Cavalcanti

Picardia


Representação
Responsabilidades

Entre direitos e deveres
Incontrolável
Arriscada

Rota
Fuga
Arma
Conquista

Bicho do mato
Bala na agulha
Facão de trilha

24.6.13

Brasil mosaico


Rascunho genealógico (paideuma catalográfico) sobre a dissolução de um sentido específico de base nacional, no caso o Brasil.

Das trombetas que conduzem as bandeiras, aos textos que as suportam, em diante.

Perfazendo um elo entre uma síntese de lembranças e um mosaico de atualidades. Acontecimentos mais ou menos passados e ou futuros, ondulando potências, e afinidades eletromagnéticas, captação, contato, combustão, explosão de situações, e implosão de signos e significados, nada mais nada menos que um mapa. O mundo como um reverb infinito e complexo de simples frequências. Afinal, as ondas de Schumman estão ai para além de qualquer nação, e as sinfonias de Schumman continuam possivelmente belas para  qualquer ouvido mais sensível.

A bandeira do Brasil como a absorvemos quando somos crianças e pré-adolescentes, como exercício de um símbolo máximo de coletividade, com a qual temos deveres e direitos irrevogáveis (exclua daí gerações de jovens não assistidos por serviços de necessidade básica: saneamento, educação, saúde e alimentação, bem como aqueles que foram cooptados desde tenra idade pelos aparelhos de captura estatais e privados, por ex, reformatórios, exercito, latifúndios, corporações, pois ai a bandeira já se coloca como moeda de troca, mais-valia).

A adolescência, por outro lado, implica um desabrochar de crises, mais ou menos conscientes e superáveis, ao que varie seu sentido. Para muitos, Raul Seixas, Tim Maia, para outros Chico Buarque e Caetano Veloso, e Gilberto Gil e Jorge Ben, e Secos e Molhados, para outros ainda Roberto Carlos e Chacrinha, Mano Brown e Bnegão, para mim foi Renato Russo. Do punk ao pop, passando pelo rock. Até chegar em Chico Science, entre outros poetas de bandas radicais.

A bandeira do Brasil como a criticamos quando somos adultos e lemos autores como Darcy Ribeiro, Milton Santos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Mário Quintana, Gilberto e Paulo Freire, entre muitos outros. Poderia citar vários filmes também, como o recente Uma História de Amor e Fúria, de Luis Bolognesi, ou Pixote, ou Besouro, ou Cidade de Deus, ou as filmografias de Glauber Rocha e Lucia Murat, entre muitos outros. Ou quando estudamos a biografia de personalidades marcantes, sobretudo idiossincráticas, como João Cabanas, Nelson Marighella, Carlos Lamarca, Chico Mendes, entre muitíssimas outras. Ou quando ouvimos tocar um choro de Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Radamés gnattali, um baião de Luis Gonzaga, forró pé de serra, o piano de Nelson Freire, o violão de Baden Powell e Yamandú Costa, o samba de Cartola, da Clementina de Jesus, a voz de Clara Nunes, a polifonia inventiva de um Hermeto Pascoal, entre muitíssimos outros seres iluminados de música. Ou quando  presenciamos uma peça de Wladimir Capella, Ariano Suassuna ou Plínio Marcos. A performance de Hélio Oiticica, um território poético de Nuno Ramos, a pintura de Tomie Ohtake, um graffitti d'Os Gêmeos. Ou quando, viajando Brasil afora e adentro, observamos a palheta de costumes e territórios em grande quantidade e diversificação.

E tomamos consciência da confusão e emaranhado infinito de acontecimentos que são as relações humanas, às quais buscamos esclarecimentos e resoluções, e talvez um pouco de utópico bom termo. Dai a ambiguidade e contradição pela qual passa tanto o que afirma como interroga.

"Sou brasileiro!"
"Sou brasileiro?"
Brasileiro cidadão do mundo.
Fervilhante mundo em brasa.

Bandeira desbotada, corpos à mostra, colcha de retalhos. Coletivo nacional...

Mulek na rua


Viro à esquina,
para a avenida, 
 mulek corre no meio da rua,
na cumeeira pontilhada do duplo meio-fio.

Fico na dúvida
se o mulek é louco ou suicida.

Um carro acelerado de cada lado,
o mulek moleja o corpo,
aquela ginga de mulek
magrelo de poucos anos de idade,
deu olé.

Os carros tiram a fina, o motorista grita:
“sai da rua, mulek maluco”!
Suicida ele não é.

Ah, olha lá
o motivo da encrenca,
uma pipa no chão.

Pegou. Correu pra calçada.
Ó lá o sorriso no rosto do mulek.

Fico na dúvida.
Sorrio também.
(mininu mulato neguin',
branquelo, amarelo,
caboclo, crioulo),
Mulek maluco!

23.6.13

Brasil 2013


no mês de tradicionais festas juninas,
a copa das confederações de futebol,
e a revolta dos desconsiderados.

muito depois de maio de 68,
pouco depois da primavera árabe,
segundo gêmeo do primeiro, turco,
o que virá da África?

MPL Pró


Movimento passe livre?
essa galera é
BIKERMAN
TREEMAN
HALF WOMEN
FOOTPEOPLE
(alguns são até vegans)

Amigos das pessoas
Que fazem aquele sobe e desce
Aquele leva e trás

Sem subir na cabeça de ninguém
Convocam os fluxos desobstruídos
Sem esperar nada de ninguém
pessoalmente falando

Contra o monopólio, pelo protesto
a favor da mobilidade urbana,

(que é também, inversamente
 rural, contra o latifúndio),

humana minoria, a maioria ninguém

Espaço do globo, território público

Bandeiras, gigantes, ditaduras


Rascunho genealógico adentro de três tópicos do momento

escrito por um pseudo antropólogo

Os gigantes existem faz tempo, e podem ser de vários gêneros: mitológicos (deuses, divindades, titãs, seres fantásticos, aquele baby marshmallow dos caças-fantasmas); populações (de pessoas, plânctons, formigas ou árvores); animalesco (polvo, baleia ou lula gigante); forças da natureza (montanhas, vulcões, abismos e tsunamis); etc etc etc

(O mesmo acontece com dragões, quimeras e outros seres fantásticos, bem como vírus, bactérias e sistemas solares, nascidos todos do desejo de olhar as coisas por um diverso macroscópio, tocar o mundo como um objeto fragmentado e manipulá-lo como um artifício lapidável)

As bandeiras existem faz tempo, e podem ser de vários gêneros: primitivo (uma pintura nas cavernas, um sinal de fumaça ou uma pilha de ossos); familiar (comunais, clãs, filiações e alianças); pública (bandeiras federais, de qualquer Estado ou agremiação celular autogovernamental e contraculturas); privadas (agremiações esportivas, corporações trasnacionais, latifúndios); ideológicas (ciências, morais, dogmas, estatutos); etc etc etc

(As bandeiras se prestam à devoção, indiferença ou desprezo, por parte daqueles que a levantam e mantêm, observam e gesticulam os ombros, e que tentam destruí-la, respectivamente).

As ditaduras existem faz tempo, e podem ser de vários gêneros: biológicas (a indústria da carne, vacinas e vírus de laboratório, a indústria química e a produção de lixo e esgoto); históricas (feudalismos, monarquias absolutistas, monopólios transnacionais, aparelhos de Estado e sistemas políticos como um todo genérico), científicas (tecnologias da população, produção, propriedade e proteção do conhecimento empírico, sistemas de mídia e telecomunicação); etc etc etc

(Sistemas de governo estabelecidos na base de violências explicitas, gratuitas, secretas e veladas. Também conhecidas como jogos de poder), e geram sempre maior ou menor desigualdade social. Distinta e contrastante a sistemas de cooperação e solidariedade.

Lembrando que essa genealogia não se presta a conclusões simbólicas, mas a vestígios de índices, assim como o navegador pirata está mais preocupado com a rota de fuga, a disposição para o contra-ataque e a corrente oportuna do que com a bandeira do seu navio ou do navio inimigo, claramente deve defendê-la. Pois, parafreaseando Deleuze, a genealogia é a esquerda sui generis.

Ossos do ofício


Rio de Janeiro
Águas de março
Abril despedaçado
Festas juninas
Outubro vermelho

um dia de novembro

O percurso dos signos
a colheita dos anos
o retorno dos ciclos

Duelo de Titãs


Enquanto isso no front
os gigantes digladiam,
as formigas observam,
ou assistem ao vivo

21.6.13

Drones


Alvos de muitos estilingues,
em uma era cyberpunk,
novos tempos para Davi e Golias

A pipa que enganchá dá rélo

A antiga labuta
de matar pernilongo
que quer chupar o sangue

Efervescência


3 tópicos do momento
(para analistas de plantão):

Gigantes
Bandeiras
Ditaduras

e feliz dia de São João!

Incubadora adubante


Sistema
corrupto
corruptores

mais-valia
resiliência
estopins

rupturas
de fogos de artifício

Controle
controlado
acaso

Artífices e artistas
de um mundo artificial
Emancipador

ambulante proveta

20.6.13

Lembranças de um navio


Eu papel escrito,
tu garrafa,
nós no mar

Vós navegais.
Ele encontra e lê.
Eles escutam

Saudades,
Sabia?
Do seu corpo líquido,
da sua voz,
o mar dos seus cabelos,
um cheiro de vento,
sagrada Janaína

Depois eu esqueço,
mas eu sempre lembro também,
memória de cachorro vadio
perdido na praia.
Procura talvez seu dono,
aquele capitão de areia,
andarilho da velha cidade,
litorânea e portuária

Amantes sempre tem saudade.
Saudade de marujo,
saudade que vem de longe,
que dilata num porto distante,
e talvez volte à pátria antiga.
Provável que não volte e morra no mar

A saudade que o filólogo sente
da biblioteca de Alexandria

E o sonhador,
da cidade submersa de Atlântida
Antiga flor do sertão

Todas as fontes vulcânicas
de amores proibidos,
dos prazeres represados,
as comportas abertas

Das procelas do cotidiano
a humanidade vive rotina
enquanto no fundo do mar
movimentos mais lentos
movem o mundo e as histórias

Enquanto o navio segue sozinho,
lutando contra os ventos,
fagulha no oceano,

a confiança na bússola
a esperança de um farol,
a luz no fim do túnel,
da escuridão aquática

carcaças e o cais,
da rocha magma
polida no mar

Crepúsculo


Aurora nublada

Amanhecer
no fim da tarde

Neblina na estrada

18.6.13

Estaiada


pêndulo de concreto
tramas de aço

as pessoas,
o Estado,
a ponte

16.6.13

Extratos


Artes plásticas,
puro líquido,
inebriante e invasor

Filosofia,
deserto e multidão,
fria poeira cósmica
e calor de vida.

Música, mar
navegar,
desbravar

Arte Cênicas,
contato, conflito, conquista
política, espaço público.

Arquitetura,
geografia, gestão, 
controle dos fluxos

Literatura,
antropologia,
palavra, postura,
decisão

E tantos mais


Paulos
Darcys
Miltons
Joãos
Chicos
Jorges
Josés
Vinícius
Jesuses
Badens
Pixingas
Cartolas
Zumbis
Carlos
Mários
Nelsons
Décios
Pedros
Natários
Riobaldos
Romarinhos


15.6.13

Noivado


Entre o céu e a terra,
até que a morte os separe,
Míriam Celeste
e... João Barroso.

13.6.13

MASP


Lina

a caixa suspensa,
grande vão

congrega
agremiação

declive encrustado
coroa, do alto,
Vale do Anhangabaú

Lembrança de amor
Paulicéia e asfalto

9.6.13

Cartola


Bala na agulha
da vitrola

os mistérios que se escondem
na poesia de uma língua desconhecida

(contato cósmico,
um beijo)

reverberam na música,
linguagem universal

ou numa tela de Tolouse Lautrec

7.6.13

Bebida


Água
mineral
ou birita
Aguardente

Néctar dos deuses

da garrafa ao copo
do copo ao corpo
do corpo ao mundo
do mundo ao gozo

Fonte jorra,
água pro fundo

mudança muda,
vida vai e volta

fonte flui fluxo,
que se desloca

para Dionísio, Baco, Jhonny Walker e João Andante

mi alma


my
soul

sou
sol

Crescimento


Primeiro eu não me importei.

Depois eu tive interesse
esforço, e sorte

De nascer na minha família
de fazer amigos, bons e maus

de não cair no azar
de cair para sempre

e conhecer aqueles
a quem vim chamar de mestres.

Cicatrizes de um corpo que dança
paixões, amor e saudades

Perene impermanência


Fundamento da religião
Essência da religiosidade
Fragrâncias de espírito

obstinada determinação
sal suor e lágrimas
despojada poesia

Sou-me Palimpsesto


Uma criança
Brincando
De cavaleiro

Corcel
Leão
Lobo

Cavalo branco
Urutú-branco!
Cavalo de fogo

“Lá vai um cavaleiro andante
Coberto de poeira”

Pelo mundo afora,
Mundo adentro,
Dom Quixote conduz
sua Shiva vassoura,

varrendo,
varrendo,

Rastros de pó
Centelhas de luz


para Bernardo Soares

jogo de filacantos

A pele que habito


Um mistério,
suspense,

um grito!

de dor,
de gol!

jogo de filacantos

Realeza


diáfana
grávida
beleza

dúvida de quanto viver

Eternidade
um momento

certeza de quando morrer

Impermanente
Precisão
vaga

incerteza no ar
mar prócela
um tormento

A montanha e a tempestade

balística curva
de fótons de luz

5.6.13

A insustentável leveza de ir


Matéria
Gravidade
Aérea solidão
de um espaço sideral

Feitiço
Sentido
Ilusão
de estar vivo ou não

A dança em volta
O frio supremo
Calor de estrela
Anos a fio

Tear
Do caos
Que enamora
Singela beleza de vida

Efeito estufa
Borboleta
Bumerangue
Dominó

Da ave que observa
O fogo no pavio

para Nausicaä e Marco Castro

jogo de filacantos

Religiosidade inconspícua


Ouvir música é estudar o espírito,
educá-lo,
para os confins do universo
para o íntimo sagrado.

Educar o corpo
Executar sua coleção de memórias
Corrente que flui do cérebro
à disciplina das mãos

história oral,
outras histórias

o poder que se encerra
numa máquina de Guerra:
uma música de paz

comunicante comunhar,
a comunicação

para Ivan Banho

4.6.13

Quitandas


Há dois mil’anos
Há cinco milênios,
Os dias de fazer feira
Arte de alvoroçar

A teia
Bandeja
Banquete
Filé

Aranha
Mulata
Bandido
e a fé

De roubar a cena
Na enxada
No churrasco
Nas ideia

De dividir os frutos
a horta
a laje
as conversa

do Anhangabaú
planaltão caipira
emerge Paulicéia

sobre Inventando quintais, de Luíz Antônio Simas

Sobre o acarajé


Oxum
Iansã
Xangô

Duas esposas,
A rainha e a guerreira,
Tempero de rei

Culinária baiana,
Ménage a trois
Do candomblé

3.6.13

Quando dois Jesus’es se encontram


1: E o amor, como vai?
“Até que a morte os separe”, heim!?

2: Prefiro “que não seja imortal,
posto que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure”.

1: Não, Vinícius não! A bíblia, a bíblia!

2: Pois então fique com seus profetas
que eu fico com meus poetas.

E o resto são provérbios.

com Juliana Okuda e Júlio Cesarini