27.7.12

Sex Appeal


Mel e brilho,
Sol e sal de mar.

Rosura branca cálida,
e também o cobre moreno,
à noite e a escuridão.

Sintonia para sentir,
apreciar a beleza,
na boa disposição.


Medo


O fim do mundo, 
a polícia, 
o além,
e a prisão. 

Amor


um equilíbrio entre
alegria
e dor.

24.7.12

Ariano Suassuna




Oralidade na cultura brasileira

Barquinho de papel



Efeito policromático do afeto
Rua Divinópolis com Bocaiuva, bairro Santa Tereza, BH
Tita Marçal

policromas de beleza 
em poças d'água benfazejas.

o asfalto, a calçada,
o musgo-mato, e o meio-fio
da cidade cotidiana.

gatilhos e gatinhos
dos olhosensações,
dissecações e cortes 

paisagem extravagante.

comentário sobre O Trajeto do Afeto

23.7.12

20_07_2012_21_49


Na planície,
beirando o rio fétido
ocultamente belo,

alguém esqueceu
o alto falante do trem ligado,
ou o canal errado,

e o lounge invadiu o salão,
ops, quer dizer, vagão.

Relance


No encontro dos olhos 
embate e o confronto, 
o medo e a fascinação 
e mergulhar na liberdade.

Noturn'urbana


Moça bonita anda devagar,
quase na ponta dos pés,
o chão quase a quebrar,
co(r)po de vidro estilhaça água.

Descendo uma rampa,
cadeiras afundam no chão,
depois de um show de Tom Zé.

Transforma a brasa embasada
pequenos fogos de artifício,
enquanto a lua crescente sorri safada.

O rio da ladeira


Vai Sidão, Vai Zizo, no mesmo dia que um dia eu também vou.

Levantar vôo.

Agora há pouco faleceu o Sidão, do Bar do Sidão.

Esse é o lugar onde eu realmente comecei a gostar de choro, e de samba.

Mesmo não indo ultimamente, pois na última vez que eu fui, o Sidão brigou comigo, duas vezes, dizendo que eu estava no caminho, mas o bar estava tão cheio, e eu tão no cantinho.

E eu achando que ele estava achando que eu também tinha derrubado uma cerveja, do lado de dentro do balcão! Que infâmia num bar tão pequeno, maroto, tão cheio! Mas foi um Zé ninguém, o tiozão com idade para ser meu pai, mais bulacho do que eu, um rapazote, com complexo de culpa por desejar as menininha, com idade para serem filhas dele, minhas irmãs. Pergunta pro Bin Laden, meu brother. E o Sidão com idade pra ser meu avô. Quanta bobagem os desentendimentos. E o que idade tem a ver com família, não é mesmo?

E nem sabíamos que estávamos nos despedindo.

E na verdade nem nos conhecemos.

Eu conheço esse rio que passa, mas não sei para onde leva.

Eu não conheci meus avôs. Nem sou o mesmo de anos atrás, nem serei o eu de agora aquele que continua por mim. Por nós. Outros passarão.

Porque se tem algo que desce, tem algo que sobe. Se tem algo que seca, tem algo que molha. Se tem algo que limpa, tem algo que suja. Se tem algo que canta tem algo que cala. Algo que grita, algum ruído.

Ouvir melhor, olhar menor, estreito animal passa.
No horizonte, um pulo, a caça.

O sol em chamas. A noite fria. A vida emana.
Frequência Shchumann, por exemplo, sete hertz e uns tantos, conforme a ocasião.

Hoje também assisti A febre do rato. O protagonista nasceu, e contagiou-se com a febre do rato, amando seu tesão e seu ódio. Dilatada freqüência horizontal, de sexo e sujeira e vida, resíduo versus corporação, o congelamento, a ordem do complexo de controlar, de dominar, de destruir.

O sistema vertical que defeca e vomita na vida cotidiana, as quimeras e os sonhos em nós mesmos brotam monstros gigantescos, que dançam as danças mais sublimes, e também as mais bonitas, e horríveis.

O nascimento de um bebe, de um passarinho ou de uma baratinha vem acompanha uma placenta, uma casca que segura, água e terra, sangue e osso, e rachando permite vibrar.

E o poeta morreu, a poesia não, e plantou sua semente. As pessoas de hoje e de amanhã falam dele, como se nunca tivesse partido. O poeta Buda também disse: “Eu sempre estou aqui. Eu sempre estou aqui. Eu sempre estou aqui”. E eu digo, eu sou ninguém!

Da penúltima vez que vi o Sidão, ele tirou uma moça pra dançar. E dança um rei, acompanhando uma mulher que dança rainha. Que finesse. Que galanteio. Que firmeza. Fina galhardia. Que simplicidade.

As lembranças levo todas que puder. E congelo e degelo leve flagelo, dor que alimenta, de nascer e morrer.

E a alegria de quem suporta o choro, de quem desata o riso, de quem samba cantando, e provoca estouro.

Uma morte para cada seção de cinema. Uma vida para cada samba. E vice e versa, a gente vai levando.

21.7.12

Bodisatva Boa Disposição


Seguir em frente,
chorar cantando,
sofrer contente.

Sonhar acordado,
atento à selva,
vivendo sempre.

French kiss


Joga a isca da ocasião
verbo ou silêncio, 
no lago dos olhos, 
o lábios pescam

rápida, volúpia, 
lento, momento.

20.7.12

Vai lá!


Vai enfiando essa bunda, esse cu,
na cadeira capitalista,
achando que tá indo de primeira classe.
Pois vai voar direto, para o além transcendental,

para o sarcófago do faraó,
do imperador, do general.

18.7.12

Mas


(Eis que surge a nova questão: a vida comprimida. A minha vida comprimida às escolhas de modos de produção: como produzir-me a mim mesmo, eu que já não me sei sujeito, e mesmo assim guardo o máximo de estórias. Um tempo adulto, ainda que um tanto alienado. É porque afinal não controlo nem domino globalmente os processos de produção e manutenção dos quais dependo para subsistir, e só muitíssimo pouco realizo trabalho duro, refinado o tanto quanto possível, sendo a maior parte da minha produção trabalho mole, intelectual, protótipos, críticas e sínteses, ainda que ultimamente flexível e articulado às engrenagens do corpo sem órgãos dos fluxos e das represas de capital do desejo, o condicionamento extremo, eletronicamente rígido e potente deslocamento e concentração de coisas, de terras, onde a volatilidade impera no lucro da mais-valia. O império dos sonhos. O império dos sentidos.)

Mas teu sorriso na fotografia 
ainda me faz mais doce, 
e ocre

uma fogueira quente enrustida na terra, 
o céu em chamas.

17.7.12

Banquete do afogado


engoliu-me com gula
gueixa-sereia,
afogando-me ao respirar
água entrando nas guelras.


comentário sobre Conto erótico: Submersos

15.7.12

Dom Quixote


Avançar contra os gigantes!
"Mas são arranha-céus, mestre", 
diz Sancho Pança.

Farol guia


suave como uma garrafa jogada ao mar,
boiando inerte mas firme e sólida,
bem fechada sua mensagem no peito que atirou-a,
e ecoa em outros ouvidos.

8.7.12

O Esquizofrênico, esquisito-frenético


E lá está ele,

em cada cubículo encadeado e sequenciado,
do DNA à habitação coletiva, o transporte coletivo, mesmo individual,
às placas de memória e pentes processadores de computador, 
às cidades.

em cada viajante andarilho, à deriva,
 às fazendas e os latifúnidios e os estados, render farms and matrixes,
e todo o espaço cotidiano, horizontal e residual.
Da História à todas as pequenas Estórias.

em cada estalar do gatilho, perversa paranoia,
ou da câmera, faminto existencialismo.
em cada imagem técnica, que a luz da fonte rebate,
e capturada chega do olho ao cérebro, constantes fractais sinapses.

Fruto máquina de corte entre aparelhos e inputs and outputs, mesmo um pomar,  
como passos de uma caminhada, meta-história mecânica, cibernética. 
O cubo e a rosa, as rosas, buquê, desafio e resposta.

Observa em si mesmo as mudanças de cada justa e dilatada aventura. Herói?
Bodisatva em fúria, o rugido do leão.

A função de um Buda ou um Hitler exige discípulos, ou não completam sua missão.
e sujeito resíduo exige um significante, 
seja para estagnar destruir e fugir, 
seja para enfrentar o percurso que mira no horizonte

arcos de linhas de fuga, a vibrar.

Interlocução humana


Quando você sente aquele cheiro podrefétido do rio, 

quando vê o morador de rua e sabe que ele não toma banho há dias, 

quando vê todo o lixo acumulado, 
o terreno baldio

e as cercas e a violência e a dor e as mortes desnecessárias, 

em decréscimo à vida, 

e odeia e sabe e ama ao contrário o que faz parte da sua condição.

Ginga


A bola, 
viola, 
Mulher, 
a vida! 

Fragmentos, 
labirintos, 
rizomas, 
e a finta!

Loopings da vida,
e as birita!

Segurança, ânsia de segurar (-se)


Você pode ser uma pessoa atenta e virtuosa, 
que cedo ou tarde vem a vida, 
vento e água, chuva da tarde em polvorosa, 
e nos varre igual formiga.

Violino


Pragmática e holística, 
duas pontas da vara, 
que equilibram tanto 
o burocrata como o asceta.

Significados e significante, 
O socius e a religião.

Caminhada


Nos confins da rua Augusta, 
lá embaixo, no centro, 
não há festa e putaria,
"No hay, no hay banda"!

somente vazio e solidão.

7.7.12

Sereia


Os rios que passam em tua vida 
cantam extravagantes e singelos, 
tempestades e bonanças,
até chegarem ao mar,

e todas as partículas, 
orvalho e gotas de chuva, 
virarem ondas, 
e retornar.

Mas a marcas,
 que os rios deixam na terra, 
são brasa na pele, 
cicatriz que queima.

a queimar.

1.7.12

Lixomania


E ainda hoje procuro aquela marca nos muros,
sempre precisa,
disciplinada caligrafia.

(Zé, mestre anônimo
da juventude subversiva)

Noites paulistanas


Dizem as más línguas, 
aquelas que dormem tarde 
e acordam cedo,

(o brilho nos olhos, de sono) 

que as luas do inverno são
as mais bonitas.

e o cheiro de damas da noite.

Diário de bordo


Que massa aquele último caderninho!

Todo ruidoso,
escrito como baralho.

Com flores costuradas, 
e entalado de anexos.

(entre stickers e rótulos de cervejas estrangeiras)

Pirâmides


Da ponta do iceberg, 
ao imenso bloco de gelo, 
civilizações e caranguejos famintos. 

Coral multicolorido, 
imensurável labirinto.

Lança


Foguetes.

aquilo que com tanta violência 
atravessa a carne dos corpos,
tranquilamente cortará o espaço 
do belo e vasto cosmos.

Imanência


Quem sou?
Onde estou?
De onde vim?
Para onde vou?

(encontrar tais respostas é
repetir as perguntas)