31.7.13

Verborragia


Sobrepujar
Transbordar
Encruzilhar

dos fluxos
resiliência

estancar o sangramento
armar acampamento
preparar para o embate
pelotão de fuzilamento

da tolerância
à compreensão
um campo de batalha

do alto da torre
o serial killer
observa apaixonado
serial numbers

com sua ágil metralhadora

onde nas sombras
se escondem
os corpos guerrilheiros
entre perdas e danos

até o mudo contra-ataque

Candelabros


O rabo do gato
a curva da lua

Olhos ouvidos crianças
Velho cego

Brincos brancas estrelas
Brilham buracos negros

Na calada da noite
Nas profundezas do som

uma idéia
um martelo

Hybrid by Skin


A tristeza faz parte das equações sem solução. Já vi isso no filme Incêndios, Vinícius canta isso como religião. Canta nos reverbs dos registros audiovisuais, instrumentos e intérpretes, memória nada mais, onde quem percebe cria vínculos subjetivos, afetivos, do coração ao cérebro, algo bate, algo corre. A descoberta do afeto, ouvindo quem já morreu.

Sou mais um peregrino do acaso, por mais que me avisem os proseadores e cronistas e cientistas de plantão, eles como eu dedicados a vida inteira, ao que cabe a cada um. Tarefa de labuta, de roçado, de manejo, a todos e a cada um cabe, como à mão cabe a luva, cada qual colhe seus frutos. Uma série de convergências, e conveniências, e perversidades veladas, escancaradas à luz do sol, aos terrores da noite, às delícias do mel, néctar dos deuses. Só quem veio foi, só quem foi viu.

Daquele objetivo
Da ponte do rio de que me rio
Do outro lado mora Julieta
Eu Romeu
Aquele desejo de vida
De vivermos juntos
Saiu pela tangente
E morremos radicalmente sozinhos

Exu Xangô a cicatriz o mapa, isso eu sempre escuto, cada momento uma etapa, e nunca precisei de papa, pois muito antes desse aquele mestre morreu na cruz. Morrer e viver faz parte, onde os caminhos se encontram, onde o maior ri mais alto e o menor ricocheteia em dobras, bumerangue molecular, na encruzilhada. Eu rio alto, forte, fonte, e tu dá uma gargalhada, cara bela ponte, o outro com quem converso e danço, a dama do xadrez que me flanqueia. Porque viver e morrer é tragicômico onde há sertão e mar, deserto e floresta, oceano e estrada, rota dos bravos. Todo mestiço uma mescla. Só quem veio foi, só quem foi viu.

O bisturi realiza o corte
A enxada ara a terra
O fim da vida no fio da navalha
Os fins e os meios
Enterrar para comer
matar para enterrar
Florescer para renascer
No vento voar sementes

paz e terra
o amor e a guerra

Aquilo que matamos dentro de nós, os sub indivíduos, fazem de nós assassinos, mas também capitão do mato. Pois o facão pica o mato, e enganado o índio se comoveu, puro interesse, cheiro de morte. Isso Jorge me falou de Natário, e Peter Pan chorou quando assistiu Sociedade dos Poetas Mortos. Carpe Diem é o lema, e saltar no precipício tarefa da águia. Sabe o pensamento voar? A filosofia nos prepara para a queda. Porém Caio absorto, na implosão do filme da vida, borrando flores ou merda, cagando nas calças ou dispersando raios de luz, no frio ou calor extremo do solo que racha, do sol que raia, do sangue que seca, do deck que inunda, o “raio que os parta!”, do navio que afunda, da peixeira que rasga, no calor do suor o corte da navalha. Com a água batendo na bunda é difícil distinguir filosofia, é difícil respirar poesia. É difícil respirar...

Só quem veio foi
só quem foi viu
a ave que observa
o fogo no pavio

Viver é perigoso, já disse o mestre Veredas da Rosa, onde a morte é estrada do rei e passagem do reino da vida.

Soundtrack: acrilic on canvas, Legião Urbana

para Bruno Monteiro

jogo de filacantos

Press ID


Presidente
Presidiário

para Luiz Sallas, vulgo Inútil

28.7.13

Cor e pó


O corpo é instrumento
é arma
Templo

Também a frágil morada
Do coração que bate dentro

Bicho do beco
dos pampas
do mato

Eu também destilo este extrato

para Pavel Guzenko

27.7.13

Sincrético


Oração budista
Primeiro gole po'compadi
Dionísio vem na parceiragem

no meio do fumacê
cuidado com as setas!

picardia
humilde
tranquilidade

26.7.13

Renascimento


Desde Da Vinci
Dos deuses astronautas
Das profundezas do caos
angelical

À arte de voar!
Águia rainha

O medo da morte
eu aceito
enfrento
e renasço

com olhos de lince
garras de tigre
asas de aço

Lysergsäurediethylamid


Deus é silêncio no mundo dos homens
E dizem que foi Nietzsche quem o matou

ah de caminhar para transpor fronteiras
desvencilhar-se de milhões de correntes sociais

Deus está morto!
agora faça o seu melhor!

em busca da síntese,
aparelhar-se num código
dissolvendo-se

Em meio à sopa cósmica
a sopa de letrinhas
Só pá nóis o tempero
da sopa nóis

menores
moleculares

atravessam
poros
de barreiras

provocando
desrepresamentos

mistureira
exorcismos
e renascimentos

 para Daniel Trigo, Tiago Alves,  Marcos Paulo Pinheiro e Ligia Albamonte

25.7.13

Miscelânea


Déjà vu
Flashback
Kharma

Tupi

Banzai
Namastê
Axé

Instinto


Sexual
de fome
de fuga
de morte

Cheiro de água,
de sangue
de terra
e chuva

Animal
de patas
e nome

sentença
semente
no vento
que muda

incansável
suor

21.7.13

Vírus


Cavalo de Tróia ou Trojan
Da antiguidade dos dinossauros
Ao cyberpunk das máquinas aparelhadas

Seja o império de Obama,
Seja a guerrilha de Zapata!

Do contágio conceito
à ruptura, fluido resiliente
humanidade em mutação

para Kafka, Neo e Nausicaä

Slippery ground


All those big lies
That litlle omitions

that allows exchanging hearts
flying the plane

but not to end poverty
and make humankind’s ambitions less greedy

World opaque reproduction
granulated surface pores

Numbers text images
Numbers test images

where slip is the climax

3'MRS


Música
ruído
silêncio

Movimento
Revolucionário
Socialista

Mudo
revivo
susto

19.7.13

Do rap ao funk


Uma batida
idéia
rítmica
duas palavras
uma rima

Conceito
Um ritmo
Preciso
Discurso
Insípido

Cidade baixa
Underground
under carpet
Downtown

Do funk proibidão
Ao hip hop nacional
Seletando frequências
Destilando o bem e o mal

Do morro à espraiada
no cangaço e na senzala
Do cancioneiro ao repente
a mixagem e o carnaval

12.7.13

Filocalia


Inebriantemente
Cálida
Perigoso
Rastro
Irresistível
Contorno traça

Luz
Corpo
Olhos mãos
Orifícios mente

Pele
sente
Verte
Escuridão

8.7.13

Maelstrom


Magnificent
Vortex
Sublime
Hydrophobia
Divine
Madness
Statement

Sea loves
Water life
death sucking
 Men furor’s itself

Los amantes del círculo polar
murieron a reunirse de nuevo

Los amantes pasajeros volaron
amados y regresaron a la tierra

Na dança de Iemanjá
Rodopio de Exu

Na fúria de Posseidon
Tango y bandoneón

Vida e morte severina
Redemoinho na rua
vira jangada de bambu

para Edgar Allan Poe,  Bernie Wrightson, Julio Meden e Pedro Almodóvar

6.7.13

Rota da seda


Mil e uma noites
de sonhos e caminhadas.
Do extremo oriente
até Antioqua-no-Orontes,
Atual Antakya.

Caminhos de terra e mar
Caravanas de gente
Muito antes de Seidenstraße
grandes civilizações antigas

Egito
Mesopotâmia
Pérsia
Índia
Roma

Berço na China,
e três mil anos
de segredo de Estado

Florescer
Fecundar
Fenecer
Jardins de amoreiras

Suor de bicho
Tecer a linha
Cobre o corpo
Prata relva
Véu de ouro

O fio da faca por um fio

Suave rede
Sedutora teia
Superfície selva
Da pele sedução

para The Silk Road Ensemble

Capoeira


Beleza
Roda
Mandinga
Ginga
Angola
África
Regional
Bahia

Terreiros de bambas
Berços de sambas
Duelos de MC’s
Galos de rinha

Passando por Besouro,
Paulo César Pinheiro,
do discípulo Curió
ao grande Mestre Pastinha!

Dois corpos
Uma dança
a chapa esquenta
a aguardente

Fluidez elástica
Resiliente flexibilidade
coração quente bomba
sangue corre na corrente

Amor malandro sapatinho
Espada perna, cabeça e mão
arma engatilhada na mente
Respeito no peito

o leque e o pente
a graça e a arma

5.7.13

Turning point


desejo
jornada
despeja
jorra
jato
gota

água bate
pedra fura
madeira goiva
mole beleza

quanto dura
beijo na boca
do corpo ao osso
banquete à mesa

muda
decisão
define
flecha
fonte
magna

magma
lava
vulcânica
lama

4.7.13

Arco dramático


O sol é alegria
Enquanto o dia avança

E então vem o crepúsculo
O manto da noite
desvelando
melancolia
boemia

luas
estrelas
neblinas

Sons noturnos
mesmo barulho
Repouso e escuridão

Até nova alvorada,
Retorno da utopia
Adia a noite
Avança o dia

A noite e o dia

Omelete


Magia,
essa mistura
da clara e da gema

do ovo e da galinha,
da febre e juízo,
da noite e do dia,

o saber condimenta
fazer da receita
sagrado negócio

e o estômago ronca
de fome
na sede
no ócio

A labuta
alquimia
contempla
a mesa feita

para a família, sintonia,
para os com fome, a partilha,
para os com gula, faca fora da bainha.

Tempero de ervas
aromáticas
medicinais
psicotrópicas
afrodisíacas

Parangolé


Roupa,
Estandarte,
Poesia,

micromonumentos
do silêncio,
do acaso,
da magia,

superficialmente
imperfeito,
impreciso,
para ser lido,

e recitando se conquista
a alforria
vale por um dia

Com sacrifício
de sangue poeta,

gotas de suor,
sangue e lágrimas,

chute no gol,

bola na trave,
bolhas no pé,

O tempo e as medidas multiplicam

máxima da vida para recitá-la,
à revelia,

Vesti-la e usá-la,
Dançar,

Tal qual

para Hélio Oiticica

Pussy


willow
some hair

grey field
shining eyes

pussy's body
spring(y) flower

flame tree
cat power

nose bleed
falling over

crying lover
loving fair

3.7.13

Duelo de MC's


acústico democrático 
versus 
discotecagem corporativista

ou

discotecagem subversiva
versus
reverberações faraônicas

Ventania


tempos loucos,
nunca mudos,
de mudas mudanças

sementes se espalham,
da abelha ao pólen,
os moinhos do mundo

do fino assovio,
assopro de seda,
à gaita de fole

na palha sêca,
a labareda

2.7.13

Comandos de atalhos


na vida real não tem ctrl+Z
Tem ctrl+X, ctrl+C e ctrl+V
No acerto de contas o ctrl+alt+del
No filme final ctrl+A ou ctrl+T
ai varia

(ctrl+F, botá a fudê)

o sistema operacional
a ilustre picardia

2 de Julho de 1823


São Jorge,
Ogum,
o Caboclo!?
Venceu o dragão.

Mesticismo místico,
eita sincretismo bão!

Só podia ser Bahia!
Baeeeeea


Dragão quimera e fénix, Anhangá, da luta pela "civilização mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas, e porque assentada na mais bela e luminosa província da terra", como disse Darcy Ribeiro no seu livro O Povo Brasileiro.

O terceiro olho


Um na folha
um na árvore
Outro na floresta

Um no dente
Um no lobo
Outro na matilha

Um na razão
Um na emoção
Outro na mira

Um no pé
Um no céu
Outro na trilha

Um no corpo
Um no multidão
Outro no espírito

Um na espada
Um na pena
Outro no momento

Um na saúde
Um na doença
Outro no equilíbrio

Um na juventude
Um na velhice
Outro na ponte

Um na fome
Um na morte
Outro na vida

1.7.13

AutoCAD


Cadernos do Arquiteto Destro

Moral da história


É que

descer o cacete na galera 
é algo que se faz há muito tempo,
com muita diligência e propriedade,

bater a clava,
passá a rasteira,
puchá o revórver,
chicotá a traseira,

porque não no Estado Brasileiro,
oras?

Extrato


Filosofia + Cyberpunk + MPL

Corpo são em mente sã

Sobre a Copa das Confederações e a Revolta dos Desconsiderados


Caderno de notas de um arquiteto canhoto.

Hoje minha consciência se expandiu. Eu trabalhei nos projetos da copa por um tempo, e via aqueles perímetros de isolamento no raio do estádio, mas eram só linhas abstratas, não me diziam muita coisa além do que mostravam: isola-se um perímetro urbano para um evento específico, sob custódia de uma administração local.

Nos últimos dias é que pude perceber, AO VIVO na telinha, o que essas linhas significaram, de vários modos, seja através de fotos, vídeos ou textos, no cenário brasileiro atual: todas as gentrificações realizadas.

Esse evento específico, futebol, esporte popular, de especial e volátil ascensão - vulgo status quo, social, econômica, nos ânimos. E aqui no Brasil, terra onde se bate uma bolinha em qualquer lugar, justamente por ser um esporte popular, diz respeito à sua relação com o espaço público, o espaço em volta do estádio mesmo, sempre um “não lugar”, ou um lugar de devir, de passagem, ante à concentração para o espetáculo, que é na verdade um outro evento. E que, dando nomes aos bois, essa custodia que foi concedia pelo Estado à FIFA é INCONSTITUCIONAL.

Em miúdos, vetou em muito o direito de ir e vir, seja da galera da geral, seja das baianas do acarajé, seja dos capitães de areia, seja do vendedor de pipoca e caldo de cana, seja dos milhões de vagabundos que ficariam de vadiagem, aumentando a “festa”.

En passant, já que é inconstitucional, os caras bem que poderiam ter priorizado uma política “populista”, de boa-vizinhança, alargado a bitola do filtro, por a música e deixar tocar, mas não, os caras são muito idiotas e mandam DESCER O CACETE. Gostei do logo: DENTRO DO ESTÁDIO: TETRA – FORA DO ESTÁDIO: TRETA, nada mais sintético.

Mas, sobretudo, a questão é que esse espaço fora do estádio tornou-se palco de lutas da polícia, arma amalgamada Estado-FIFA, e manifestantes em protesto; para lá do público que consegue adentrar o estádio e conquista seu lugar cativo, afinal não tem arquibancada para todos, mas só para uma minoria seleta.

Parafraseando respectivamente Baudrillard, Debord, Platão e Marx, as maiorias silenciosas fazem sombra onde há espetáculo, por questão de ignorância e mais valia.

Parafraseando Foucault, há um problema de espaço, em um circuito de tempo.