30.4.12

Hermético


Vai e vem, sobe e desce.
No percurso falha toda tentativa de progresso.
A zona de conforto, um tempo incerto.
Quando, entre viagens, realmente chega a hora
 de partir.

O xis da questão


Recusar não é uma boa,
mas desprezar é uma ótima,
quando desejar é um luxo,
e possuir uma dádiva.

Sedução


A simplicidade de um olhar
que se entrega a outro olhar.
Ofegantes mãos cegas, voluptuosas
sendas, olhos mudos como bocas.

Gozo


O mais fundo a entrar na terra,
O mais alto a explodir no ar,
O mais alto a subir no mar,
Fogueira que queima a consciência.

28.4.12

Recomeço


Tudo o que eu adquiri até ontem,
morreu hoje quando acordei.
Foi minha primeira sensação de luta,
contra o eterno retorno.

hoje nada finda, tudo recomeça,
ainda que seja o último dia,
já minha razão o sabe dizer.

Mas sem embaraço continuo ébrio,
continuo louco, na ânsia quente e vazia,
de te amar e a ti querer.


jogo de filacantos, 28.4.2012

Divindade


Zeitgeist da diversidade, a multidão de templos.
Gigante adormecido sonhando acordado.
Em chuvas ancestrais se banha o formigueiro.
Grãos de poeira que perfazem o universo.

26.4.12

Tempo remoto


A mulher dançando.
Árvore altaneira, copa florida.
A grama rasteira, subindo pelas paredes.
A música, território terremoto.

Anti-sombra


A ave voando alto.
O peixe ondulando as águas.
A cobra rastejando sob a terra.
O corpo ereto no sol à pino.

Cabeça de prego


Bate-estaca.
Bate continência.
Bate cartão.
Disritmia no coração.

21.4.12

Sexy machine


Lanço raios linguísticos ao mundo,
cobra d'água ou do deserto.
Selvagem cunninglingus,
constante tanto no silêncio como na balbúrdia.

20.4.12

De(n)tritos


Suponha que meu coração seja ele próprio. Mas suponha também que seja meu peito, meu pau, meu cérebro. Suponha ainda que seja minha orelha, minha boca, meu nariz, meu cu. Digamos que meu coração sejam meus pés, minhas mãos, meus braços, minhas pernas. Seriam corações?

“Seu coração é apenas isso”, diz o reducionista. “Seu coração não é nada disso”, dirá o pessimista, e o cético acrescenta, “só acredito vendo”. “Seu coração é muito mais que isso”, diz o metafísico. “Seu coração é vagabundo”, digo a mim próprio, na boêmia ou na labuta. Seu coração é tecido e sangue, dirá o materialista, e se for mais técnico acrescentará, “com todas suas circunvoluções, cavidades e conexões”.
Suponha que meu coração seja uma bomba que circula sangue pelo meu corpo. Então imagino minhas ventosas e arteriais sendo os rios desse mundo. Nasço do ventre da terra, e quando morro, chego ao caminho do mar.
Meu coração é tantos e não é nenhum. Mora dentro do meu peito e mora em lugar algum. Representa tudo o que sinto, mas também minha atitude e aquilo que penso. Se expressa nos meus olhos, na minha boca, mas também no choro, e na gargalhada áspera de um sorriso amarelo.
Meu coração é companheiro da saudade e inimigo da ausência, amante da novidade e devoto dos princípios. Seu espaço é um jardim de momentos plenos, de energia vital, de prazeres pequenos: respirar, andar, beber, comer, amar, pensar, transpor, continuar.

Mas também uma enciclopédia de dores, frustrações, fadigas e fracassos. Ele, que não pará nunca, funciona sempre, uma máquina além do cansaço.
Meu coração é tão menor que o mundo, que direi do universo, mas a tudo quer abraçar. Meu coração é sangue que corre, ar que respiro, caminho a que aspiro. Meu coração é água, imensa superfície, indo sempre à fundo. Por sobre o centro de fogo, maré e magma a girar.

para Zaratustra

Suspiro


Ao ver que passas,
paisagem, teus olhos, minha vida,
aprecio, fico mudo, e me lanço à frente
num segundo.


jogo de filacantos, 20.4.2012

18.4.12

Frenesi


Muito além dos fatos percebidos
ocorrem intensas batalhas emocionais.
Natureza e artifício misturam-se ininterruptos,
em meio ao simulacro mistério da realidade.

16.4.12

Reverberação


Emoções, sentimentos, palavras, 
Sementes levadas pelo vento,
brotando no jardim da lembrança.


comentário sobre Metáfora de amantes

14.4.12

Xangô


Desce o raio,
bomba de luz,
derramando-se
na cânfora em flor.


Corpo animado,
pousa flutuante
na pedra, observa

o céu nublado.

A chuva.

jogo de filacantos, 14.4.2012

Sweetness


Flashbacks, 
like candies.

13.4.12

Pele


Vento no mar fazendo ondas, lua.
Grama grassando à terra, vento.
Ou árido deserto, o sol derradeiro.

Solidão solitude solidão.
Sol lindão.

A carne a moldar o osso a estruturar a carne,
Humana tatuagem, de construção e destruição.

11.4.12

Necessidade e opção


Maravilha e...merda!
Paciência e... porra!
Fruição e... foda!

Filosofia escatológica.

Bichos


Alguns a gente come,
outros a gente cria.
Da mesma espécie a gente ama,
mas muitos a gente mata.

Mercenários


Profissionais liberais,
piratas radicais,
caçadores de recompensa,
não chegam aos pés
do capitalista crônico.

8.4.12

Dobradinha


Lua fénix:
oscilante espectadora


Isto é

jogo de filacantos, 6.4.2012

Céu no peito


Tão forte o fogo queima,
o sol, fumaça, pó ao vento.
O cheiro forte, vento de chuva,
mais à frente é o mar.


jogo de filacantos, 26.3.2012


Mais bela


Enrolada colcha de lençol,
uma concha, uma ostra,
uma pérola.

Lá fora, a noite, da janela,
a lua alumia um gato.
Fada?

jogo de filacantos, 26.3.2012

Tempestade no deserto


Do ovo que choca,
em frente à imagem e movimento,
nasceram dragões,
Durante o sol da Babilônia.


jogo de filacantos, 30.3.2012

Satyagraha


Teu anel, tal algema,
me oferece coisa alguma.
De um sal, por suor,
Evapora o mar ao sol.


jogo de filacantos, 30.3.2012

Concretude


Aquele equilíbrio
entre isso e aquilo.
Tábula rasa do certo errado,
contra tudo o que é profundo.


Superfície.
Território ermo.

jogo de filacantos, 30.3.2012

Outono


O velho gosto,
de momento novo.
O verbo solto,
ao sabor do vento.


jogo de filacantos, 24.3.2012


Flores


De onde eu venho,
tu sobrevives,
em outro alguém,
somos tantas.


jogo de filacantos, 24.3.2012

Meu amor


Voa de prazer,
urra de dor,
estremece a terra,
num leve torpor.


jogo de filacantos, 24.3.2012


O juíz e a jaca


De férias na praia, gordo.
Não como outros colegas seus,
trancados em salas,
com a cabeça a prêmio.

E não é que, andando despreocupado,
cai uma jaca na sua cabeça!

Tá lá um corpo estendido no chão!
Efeito da gravidade ou efeito dominó?

E o gordo fruto aberto,
os gomos salivantes,
mechas de sol,
por entre as ramagens da árvore.


jogo de filacantos, 21.3.2012

De plástico


As peripécias do petróleo,
combustível fóssil,
dinossauros dando vida,
aos motores de combustão.


jogo de filacantos, 24.3.2012

Idade da Razão


Morrer é uma bosta,
e por isso a vida deve ser significativa,
necessariamente.

Pois não basta cagar,
há de cagar em cima de uma flor,
num nenúfar.

E sentir em todas as coisas da vida,
símbolos, mitos,
poesias.

jogo de filacantos, 17.3.2012

À gosto


Hoje à noite,
descendo a Augusta,
cruzei com um homem,
vestido de mulher.

O vestido muito curto,
escorrega pra cima,
puxado para baixo.


Será ela?
Era ele?
Ou era eu?

Descer a Augusta,
entrar num labirinto,
fragmentos de espelhos.


jogo de filacantos, 21.3.2012

Caminho-Dô


Viajante nômade.

Num momento paro,
olho, admiro, penso:

Andorinha voando ao sol.
A lua, à noite, em claro.


jogo de filacantos, 17.3.2012

Estrada


Tanta caminhada,
paisagem, crepúsculo, alvorada.
O cruzamento de uma via,
Uma cidade que se anuncia.


jogo de filacantos, 30.3.2012

Fénix


Eu te queimo, Terra!
Por fora Sol, por dentro Magma!
E tu me banha, ó mãe, amada Gaya!
Mas tu me mimas demais, amante Maya...

e de repente tira!

Duas pinças tem teu Deus, lagosta estranha.
ou dois caninos de lobo.
Matilha de homens.


jogo de filacantos, 15.3.2012

Beleza



Algo que desperta súbito interesse,
de não lembrar o que era antes,
de não saber jamais.

6.4.12

Diplomacia


A revolta é o estado bruto, que molda
o que almejo por humildade.

Se tenho galhardia,
é porque estou a ver por cima,
e andar por baixo.

De preferência atento,
e sem alarde.

Fora ou dentro do compasso.

Nietzscheano


Lapidando a inteligência
com marteladas na cabeça.

5.4.12

Revelação


Aquele filme queimado,
ou era leopardo,
ou era gato pardo.

jogo de filacantos, 24.3.2012

Tropeço


Dessa altura que cai,
de um segundo a mil,
teu amor não tem preço.

E de que serve a pressa?
Se o sol está raiando,
se a paisagem é bela.

jogo de filacantos, 24.03.2012

À água


Luva
da mão
que se lava.

jogo de filacantos, 24.3.2012

Poesilhas


Poesia abismo,
de quem se joga em alto mar.

Poesia altura,
de quem mergulha e quer voar.

Poesia do profundo,
"nos olhos buracos negros",
ou do raso, "Folhas de Relva".

A densa poesia de uma vida finita,
a derramar leite e seiva,

sangue e água,
amor e guerra.

Ilhas de poemas.

jogo de filacantos 15.3.2012

4.4.12

Garoa


Sol e chuva, casamento de viúva!
Chuva e sol, casamento de espanhol!

Pega as toalhas, filho!
Já to pegando, mãe.

Pega as toalhas, filho!
Já to pegando, mãe.
Só não me peça para ter pressa.

Musa


Fluindo, o coração
bebe sua imagem.
Obedece sua sede,
e a água escorre pelas mãos.

Omolu e Iamsã


Ai meus rios! Tietê, Jurubatuba,
Tamanduateí e tantos mais.
Mil braços maculados de água
a vazar minha saúde de caça.