28.4.17

Dança Cósmica


Corpo Sútil
Veículo Pneumático
a Descida das Esferas

Carimbos
de uma flor
duas Mãos

para Letícia Helena Coca Santa Cruz

25.4.17

Cego astrólogo


na cidade grande
é difícil enxergar
as estrelas do céu

22.4.17

dez em um


Aqueles poemas que não são só vaidade
(ainda que caligrafia
 exercício de linguagem)

mas são sim
nua e crua
a dura verdade

quem sabe um dia
esculpida em mármore

21.4.17

pela noite da cidade


No pequeno jardim
o grande casulo
cultiva uma mariposa
que vai voar

15.4.17

Olho de Gato


não sei como
mas sei o que quero
aguardo pondero
de tocaia te espero

na sombra sepulcral
da noite sem lua
observo atentamente
reflito profundamente
executo num instante


um tiro certeiro

para Marcopablo o Velho

11.4.17

São Circenses


Não há divisão
entre Apolo e Dionísio

Lua Forte


12 de Abril de 2017

Orvalho úmido de Outono
A Lua quase cheia
Damas da Noite em Flor
a Primavera de 68

E a vida, como segue?


Assisti hoje, 11 de Abril de 2017, o excepcional filme Era o Hotel Cambridge, em companhia de colegas da FAU Mackenzie, no cinema do Shopping Frei Caneca, nas palavras da diretora Eliane Caffé um docudrama beckettianamente costurado. Na sequência desenrolou-se uma conversa não menos memorável, no próprio edifício do Cambridge, depois da caravana de estudantes descer a Augusta e seguir pela Álvaro de Carvalho.

Entre o Shopping e o Hotel tornado Moradia, uma colega que visitou a trabalho áreas de assentamento precário conta o trauma que viveu ao ver um nenê lamber a mão depois de lançá-la ao córrego tornado esgoto: alguns salgadinhos caíram no chão, era só pegar! Ela carrega uma lembrança memorável, expectadora de algo mais preciso e cruel do que a noção precedente de pobreza, como tomar o trem lotado quatro horas todo dia; ao nenê, deseja-se e espera-se, tenham seus anticorpos e um mínimo de nutrição conseguido superar o desafio que se colocou tão cedo em seu destino, ainda que os desfechos de quem começa assim possam ser devidamente destrutivos, como aconteceu com aquele ator de si mesmo, Pixote. Pessoas despedaçadas...

Vida que segue, adentramos o Cambridge, o local da trama em si, e descobrimos que, diferentemente de um passado recente, a experiência de revelação própria que o processo do filme suscitou abriu as portas e janelas da ocupação para a rua. E o grande número de pessoas presentes, por volta de oitenta, foi brindado com a presença marcante de Carmen Silva, “protagonista da minha própria vida”, uma das lideranças da Frente de Luta por Moradia – FLM, que interpreta a si própria e à qual segue transcrito aqui um resumo do seu próprio relato.

Nordestina, mãe de oito filhos, sofreu violência doméstica, morou na rua, no abrigo da prefeitura, e acabou indo numa reunião do movimento de moradia depois de uma senhora insistir muito em convidá-la. Pela convicção e graça despojada com que expõe sua certeza no movimento, com aquela tez que a Maria Maria de Milton ilustra bem, fica claro que temos ali uma mulher renascida, que já foi também uma pessoa despedaçada, mas que foi devolvida à sociedade como cidadã que clama pelos seus direitos, nada mais que isso. Cidadania esta que, em última análise, liga todas as pessoas, numa série ininterrupta de reações em cadeia; o individualismo, a isolação, é a morte, mas viver e estar junto, conviver e reconhecer afetos em comum, é o que faz viver.

São Paulo tem 2 milhões de metros quadrados de imóveis sem uso, e um grande fluxo de pessoas que não tem onde morar, como um rio caudaloso e maltratado, um animal acuado e um monte de concreto abandonado. Assim ficou o Cambridge anos antes de 2017, e assim foi com a primeira ocupação de Carmen, o Casarão Santos Dumont nos Campos Elíseos, em 1997. E aderiu ao modo ocupação depois de perceber que a cultura do mutirão, iniciada na Fazenda da Juta no começo da década de 90, estava custando muito caro para os principais interessados, sendo que muitas pessoas morreram sem poder usufruir o mínimo da casa que construíram. E o centro, nessa época, despovoado, aos caprichos daquela nada especulativa e caprichosa espera do mercado: quem faz tocaia fica acordado e apenas aguarda a hora de liquidar a peleja. Repovoar o centro, hora pois – a Paulista tão pujante e as favela tão distante!

A moradia não é uma caixa. Arquitetura é vida, e não o concreto, a caixa quadrada, ainda que para retângulos cada vez menores de CDHU ou PMCMV as Casas Bahia e Lojas Marabrás sempre encontrem soluções ousadas, criativas, inusitadas, e sempre lucrativas. Assim como o teatro não é para os grandes salões, mas para o povo. Assim como devem ruir os parâmetros que encrudescem a Universidade, alijando-a de sua própria destinação: a assessoria técnica a quem precisa, que sofre real necessidade, o projeto embaixo do braço. E ninguém quer nada de graça, queremos comprar! E não precisamos ser proprietários, desde que haja garantia do direito de moradia, assim como reivindicaram militantes da Plataforma de Afetados pela Hipoteca – PAH, durante a exibição do filme no festival de cinema de San Cristóbal, na Espanha. Nessa ocasião Carmen procurou, mas na Espanha por onde andou não encontrou nenhuma rua com o nome Cristovão Colombo. Aqui os nomes dos exploradores são muitos, não cansam de nos lembrar, por que será?

A moradia é essa arquitetura urbana que tem, como grande princípio, a assessoria técnica, pois temos que ser compactos, dado que somos muitos e os recursos poucos. Plano Diretor Estratégico é uma capacitação que o governo tem com suas cidadãs e cidadãos. Tudo o que o movimento de moradia quer é pertencer ao Estado, e não fazer parte deste à contragosto. Combater a lei com a lei, pois mesmo a lei, nas rubricas, se prostitui: se até mesmo o prefeito vai ao exterior vender os números dos nossos Bilhetes de Transporte, leia-se “Títulos de Eleitor”, há de se encontrar outras formas de luta. Como arma contra juízes, usar mixiricas quebrando as cascas. Derrubar os muros, colocar cortinas brancas, adequar o favelão à cidade – um mínimo de infraestruturas – e não sobrepor-se a esta.

Aqui não é acampamento da Cisjordânia; aqui é o Shopping Rua! Tem estrangeiros das mais diversas culturas, mulheres, crianças, toda sorte de gênero, e cabe a preocupação em tentar compreender cada um destes. A comunicação é tudo. Não deixe a arte morrer, pois só a arte é capaz de se entremear por todas as camadas. A essência de vivermos juntos, e tem várias Carmens por ai...
         

4.4.17

o Poder de Sonhar


não importa tanto o que as coisas são
"a vida como ela é"
ainda que se deva refletir profundamente

importa mais como as coisas podem ser
o que tem que ser

2.4.17

Capricórnio


Saturno não caí do cavalo
é antes o próprio cavalo que cai

Caí pelo Tempo
Caí pela Guerra
Caí mesmo por estar distraído
Ou por ser desastrado

Ainda que esteja destinado ao sucesso da escalada
Eventualmente cairá
A queda é inevitável

Vai até o fundo das águas abissais
depois do penhasco há sempre um abismo
até o alto da montanha escarpada

Lá do alto uma ave observa o pico solitário

O vento bate fresco

Coração Bandido


Toda beleza tem algo de sublime e terrível
porque delicada e efêmera

Amá-la é aprender a deixá-la partir

Livro de Versos


a poética do Céu é por demais extensa
ainda que seja simples o ato de contemplá-lo