31.12.11

Na virada


Meu terno é branco, de gravata colorida, 
mas meu guarda-chuva é preto! 
Noite de prata, colore essa armadura, 
que o sol nutre e o orvalho alumia!

Yin e Yang


No golpe da marreta, 
o tesão concentrado explode! desanuvia...
A água mole que fura a pedra,
desce à terra, até o fundo, e recomeça!

Ó lá vô!



O senhor já foi como eu, 

e nós dois já fomos bebês! 
Um dia serei como tu, 
mas sempre serei teu freguês!

17.11.11

O Executor e a Reflexiva


Admirável mundo novo,
aquele primeiro que bateu a clava,
com o tronco tocou o fogo
e com a erva temperou a carne.

E aquela que via aplaudia,
e de tanto aplaudir percebeu o Ritmo.
Ouvindo o pássaro assoviar se emocionou,
e decidiu imitar tudo o que era vivo.

Reinventaram juntos a si mesmos,
criaram mitos, arte, história, ciência e conflitos,
do transparente ao opaco o jogo de espelhos.
Da clava à clave de Sol.

16.11.11

Leão


Gosto de carne quente, massa densa,
Sangue e vinho bebe como vampiro.
Quando se atracam, não se sabe se brincam ou se matam.
Com a caça e sua cria, rei da vida, deus da morte.

15.11.11

Peixes


Na água doce ou salgada nada,
no fundo ou no raso.
Louco ou sensato? Fada ou adaga?
Momento e acaso.

Escorpião


Espírito de leão,
em um corpo de formiga.
A terra tão grande,
um imenso mundo cão.

Veneno tão amargo,
de um beijo tão doce,
na cauda um rabo de arraia,
no olhar a flor e a foice.

14.11.11

Ânsia


Ignora a roda criativa há tempos criada,
presumindo ser quadrado
o giro elíptico da geodésica,
dançante à bola de fogo.

O leão na jaula urrava,
O louco no quarto descabelado,
O pássaro cantando da gaiola,
O herói confinado na solitária.

Nuvem-dragão


Você! que quer inundar o mundo
com sua poesia, chuva benfazeja,
não é mais que a águardente, garrafa náufraga
jogada ao mar, colo de Iemanjá.

Californication


Entre o Universo da Arte
e o Mundo da Carne:
que difereça abissal
entre comer e amar!

Muito mais do que amizade colorida
um relacionamento efetivo:
és algo muy raro,
lucro imensurável!

12.11.11

Idéia, ideal


Produtos e processos, fracassos e sucessos.
Rizomas, contâiners, cápsulas e patentes.
Navios, trens, sinapses e parentes.

Atravessando mares, criando pontes,
Cruzando o mundo, em vertigem potente.

O conjurador da chuva


Sabia tão pouco.
O sabiá cantando solto.
O louco gritando rouco.

A secura da garganta.
A fineza do bico.
A chuva que encanta.

para José Servo Primeiro

Frescor, sem frescura


Ele e Ela se encontram,
depois de tanto tempo,
mesmo que apenas alguns segundos.

Tiram a roupa, as máscaras, jogam longe.
Se entregam ao calor, suor dos corpos,
ao Encontro, brandura dos espíritos.

O livro das aparências


Uma multidão de espectros,
dançando juntos,
tal qual "fantasmas nas conchas",
ou tartarugas arrastadas pela rede.

Susurram ruídos,
às vezes gritos,
às vezes música,
notas de rodapé
no "Livro dos dias".

Emoção: idade da razão

"Não é preciso razão para cantar um samba",
para amar a Mulher,
para ouvir o canto do sabiá,
desfrutar a fruta,
olhar o céu, o mar.

Mas é preciso razão para melhorar a colheita,
para selecionar as ervas,
para auferir a têmpera.

E eis que a fé suprema é a razão suprema,
a emoção sábia de uma vida plena.
 

11.11.11

Diário aberto: formulação em prosa de uma inquietação poética, ensaio-manifesto (em processo)


     Certa vez, em novembro de 2009, enquanto pintava a saudosa tela “Eros e Tânatos”, fui abordado por um arquiteto, todo solto, quase caindo em cima de mim, figuraça! Ele me disse: “Qual a profissão de Deus? Arquiteto. E a do Diabo? Advogado”. Realmente, Sempre que analiso a real-unidade, dos amantes, da gestação, da flor de lótus, caio na dualidade: ação e reação, causa e efeito, ou efeito-borboleta, Apolo-Dionísio, Atenas e Vênus, paz e guerra, Masculino-Feminino, Vida e Morte, Razão e Emoção, Yin e Yang, ação e passividade, latente e manifesto, real e virtual, Pai e Mãe, em todos os níveis, da superfície de ventos, topografias e ondas – marítimas, sonoras, sanguíneas, à profundidade serena e abismal do silêncio, particular partícula. Uma imensa diversidade incalculável de pequenos gigantes. E daí às tríades: Sol-Terra-Lua, primeiro-segundo-terceiro, etecetera etcetera etcetera. Uma metafísica adorada desde antes de Pitágoras. Todo o pragmatismo que entendemos do universo, paradigma – elementos de um conjunto, e sintagma – combinações possíveis entre esses elementos. “O jogo das contas de vidro”, como sugeriu Herman Hesse, a apoteose do conhecimento da consciência humana – universal.

     Quero aprender a dançar, sem precisar pensar sobre isso. Ter segurança e calma para, junto a quem precisa, realizar meu ofício. Compreender que na minha fome se esconde o sofrimento de outro ser, aquele que será comido. Entender que o meu medo da morte é a fome de outro, buscando se renovar. E o pavor da dor, que aceito ao me deliciar de carne e sangue, é apenas a falta de disciplina. Como me preocupa o sacrifício de um bicho, parente distante. Mas como é gostoso o bife no prato, esse símbolo do sofrimento. Encontrar uma forma de minimizar essa luta – da mente sôfrega por comida do corpo, o que dela for desnecessário. O suor e a lágrima como pedaços de mar.

     Assim é minha missão, seja na arquitetura, seja na música, seja em qualquer arte – síntese científica: apreender os elementos que a Família (humana) vem desenvolvendo nesse empirismo histórico desde os primórdios, objetos técnicos, técnicas para criar, modelar e usar objetos, e o que fazer com esses objetos, essas técnicas, como usá-las. E são tantas, desde que tomamos consciência da nossa própria organização, biológica, social, psicossomática, nesse imenso formigueiro.

     Na verdade, é difícil conter o deslumbramento com tudo que foi e é feito, natureza e humanamente, desde a beleza da floresta, à aridez do deserto, à queimada do cerrado, À chuva que destruiu Macondo, o tempo passando, "pássaro-tempo", a semente, a folha, a flor e o fruto, da formulação estética musical, passando desenvolvimento técnico-produtivo da história da arquitetura e da civilização pela arquitetura e chegando à sabedoria milenar da medicina e da agricultura celeste. Toda a integração e contraste entre todos esses horizontes em fuga. O saber de que estou apenas engatinhando em tudo que faço, um gatinho mamífero na selva dos leões carnívoros. A contenção e disciplina necessárias para continuar me desenvolvendo sem me equivocar. O panfleto de uma pizzaria aqui do bairro, deixado hoje na caixinha do correio, cita uma interessante passagem bíblica: “PV 19.02 – Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado”. Engraçado, como canta Zeca Baleiro em uma música: “todos somos filhos de Deus, só não falamos a mesma língua”, e não canso de lembrar a orientação do Mestre Daisaku Ikeda, diretriz máxima da contiguidade simultânea, da ação e do contemplar: “observe cuidadosamente, compreenda profundamente, execute num instante”.

     Resta seguir em frente, horizontes em fuga de um futuro sempre imaculado, considerando a mortalidade como a outra face da eternidade, essa dança de Shiva que, segundo os antigos, nunca cessa. Universo em desencanto, horizontes do prazer.

Mel e fel


Amantíssimo.
Amor de muito!
Amaríssimo.
Amor em excesso?

10.11.11

Desobediência civil


O estatuto das coisas avança,
Do fogo-clava ao nano-ser.

A Mãe a todos dá, a todos o Pai ilumina.
O universo se expande. Se contrai?
Velho acordeom, casa antiga.

Na banalidade, a vida simples e bela,
A novidade da música, na performance-sintonia.

Os irmãos nascem e morrem, amam e matam,
Por um punhado de terra, por uma voz amiga.

E a espaço-nave segue firme e forte, sublime,
Indiferente aos processos de uma tabula rasa.

6.11.11

Xis


Horizontal-verticalidades,
um dia a mesa vai virar!
Choro e tango, paz e guerra,
vida e morte, horizontes desta terra!

30.10.11

Diário, ou San versus Rôku (3x6)


Escrevo para fechar o corpo,
para abrir os caminhos,
para curar as mágoas
e cicatrizar os espinhos,
que rasgam minha pele,
num transbordamento sanguíneo.

E que um dia eu escreva
para vencer labirintos,
remover as pedras
e convencer destinos,
transformando a mim mesmo,
num pássaro de fogo.

Escreveria mesmo sem cessar,
até o infinito dos versos,
até findar o universo,
se não fosse parar,
um dia,
esse insensato coração.


O anjo pecador


Descortina o que era velado, calado e mudo.
Torna claro e modela a fauna e a flora,
no escuro da terra a semente e a morte.

Abre asas, sobe alto e mergulha profundo,
Renova o velho, descobre o novo,
Entre passado, presente e futuro.

17.10.11

Sonante


Música de chuva e silêncio
regando a terra.
O trabalho.
A atmosfera.

Tempos imateriais


Escritório? Uma idéia!
Computador? Lapiseira, um caderninho!
Joga na rede, nada sozinho!

Aceleração


De dia xícaras de café.
À noite taças de vinho.
Água o dia inteiro.

Combustível para o motor.
Fumaça biodegradável 
saindo do carburador.

9.10.11

Embarolhado


Cocô
rolando
na ribanceira.

30.9.11

A rosa em flor


Fome.
Fonte.
Fronte.

Forte.
Foice.
Foi-se.

Máquina de desejos


Nunca sou uma coisa só
nem estou em um único lugar.
Tudo é compartimento e encruzilhada,
homem articulado,  vida compartilhada.

27.9.11

Muerte


A história infinita 
e infindável 
da incerteza.

Impalpável


sempre bela e intraduzível,
senão por ela mesma poesia,
do invisível.

Coral


Incrustado na terra,
Molhado pela água,
Inflamável para os olhos.

Se encostar, reverbera nos ouvidos,
Cheiro de mar,
Gosto de sal.

4.9.11

Tansbordamento revelante


O espaço da liberdade
no campo da limitação.
O cultivo da disciplina
na voz sagrada da razão.

Tranqüilo e intenso


Sublime contentação,
Contente sublimação,
de realizar a cada dia,
a renovação do meu desejo.

para Lígia

3.9.11

Ambição de ser


Quando o som afina,
na matéria que labuta,
o espírito se eleva,
lapidado à força bruta.

31.8.11

O onironauta


Voando em meio a sonhos,
horizonte em curva, inflada vela.
Ventando nuvens a nave viaja,
e a vida se move, toda bela.

para Camila

30.8.11

O pugilista amoroso


Disparava socos e beijos,
conforme o momento,
de vida ou de morte,
com paixão e desejo.

para Evas Carretero

28.8.11

Velada superfície


Poesia é ver a onda quebrar,
pele tempestuosa que guarda
a profundidade serena do mar.

Curioso desespero


É uma dúvida criativa
que me atormenta há tempos,
Fazendo pensar muito rápido
andando a passos muito lentos.

25.8.11

Reino selvagem


Em meio a tantos eus
na terra da fantasia,
Vive o operador de canais
no mundo real.

22.8.11

Jogador de brinquedo


A cada botão que aperta, move-se o mundo
em danças de combo inigualável.
Nasce assim a resposta exata, que modela
o mistério de todos os desejos.


Dúvida constante,
Mistério intenso.
Pergunta amante,
Encruzilhada amada.


Brinquedo de tempo


O registro que perdura,
na matéria que se apaga,

Terra varrida noite e dia,
por vento, fogo e água.

Mergulha uma parte em tudo,
que em tudo sempre nada,

Vida precipício se agita,
e nem com a morte se acaba.

Instrumento dimensional


O cubo e o hexágono.
O tetraedro e o quadrado.
O triângulo espaço-tempo,
A vida em compasso e esquadro.

Ae querubim!


Anjo caido? Caiu do céu!
Se for cair,
é pra dá golpe de capoeira!
Só sucesso.

18.8.11

Devaneios


Centrado em pensamentos silenciosos,
Saturno observa Clarividência, desejo do dia
que nasce noturno.  Como o sol despontando na lua,
a beleza que te transforma em paisagem.


16.8.11

Cangote


Não importa o perfume,
se orvalho da noite
ou cheiro de mar,
desde que seja tua pele.

O bêbado equilibrista



De pé em pé ondula no meio,
se equilibra, mas sem pressa.
A corda tensa em duas pontas,
a vida canta, o som manifesta.

9.8.11

Melancolia


A Terra explode, 
em cada folha que cai 
da imensa árvore, vida
 que nasce e morre.

5.8.11

Vênus e a cruz


O lado bom e o gosto ruim de um singelo gesto: 
festa ou armadilha, veneno ou remédio.
Do big bang ao cataclisma a vida e a morte,
o princípio e o fim, o desejo e o mistério.

1.8.11

Nascer, morrer


A onda em mar,
de sol a sol.
Tempestade e fantasia,
na semente o girassol.

26.7.11

Descarga emocional


É uma merda...
mas fui eu que fiz!
Do barro vem e torna
a humildade do aprendiz.

21.7.11

Vento


Assovia.
Uiva.
Ruge.

20.7.11

Cachoeira


Gozo.
Lágrima.
Sangue.

Rápido


Do desejo ao pensamento,
olhos em mãos, a flecha
em riste, alvo na mira.
O arco tensiona, a platéia assiste.

Passos largos, passos lentos


A vida passa, intensa e depressa.
Pra que ter pressa então!?
Pressa de viver, pressa de morrer!

19.7.11

15 de Julho


A beira-mar, meu amor,
toda dentro de mim,
tão perto e tão longe assim.

A lua tão cheia,
a deriva sem fim,
 
e eu tão sozinho.


Ser Humano


No osso duro da rocha,
A lágrima mole da chuva.
Tão difícil de criar,
tão fácil de quebrar...

1.7.11

Anos Perdidos de um tempo sem fim


os pés sustentam o templo,
que abre para o céu da mente,
e aprofunda no coração.

Logo logo ou distante no tempo,
querendo ou não nadarei indiferente
na sublime imensidão.

28.6.11

Emaranhar


"Toda literatura é um palimpsesto"

 Outros cadernos de Saramago, pérola publicada justamente hoje, bendito dia em que atualizo este querido blog. Pois então eu digo: 

e toda forma [de expressão] é um metapalimpsesto!

Lugar Fresco



Couraça? Armadura de Jorge!
Tesão? Explode e relaxa!
Cortina de fumaça?
Meuxarabi é um homem-borracha!

12.6.11

do AntiAsceta


Mate o prazer!
De preferência com marteladas erótikas!

11.6.11

Vida


A poesia de uma única palavra.

Do próprio nome


Luciano Albamonte da Silva.

Da luz de si mesmo até a montanha iluminada do povo,
a jornada do herói.

ou

Mamãe me chamou Luciano Albamonte para eu ser formoso,
Papai me chamou da Silva, para ficar junto do povo!

Prata da casa


Adoro o cinza! Cor do asfalto, da ambiguidade,
da dureza e do belo no concreto.
Cor da pedra e do metal
da espada do meu desejo.

26.3.11

Nos trilhos da vida


Borboletas de luz atravessam
o vagão que me conduz.

Só mais um


Eu? Eu não conto.

E a vida solta a voz


Falo com as pessoas,
de dentro do meu cérebro,
para o universo.
E elas respondem,
em uníssono silêncio.

Crepúsculo


À noite, quando morrer é uma opção,
O sentimento se confunde, entre silêncio e solidão.

Porém de dia, quando viver é uma necessidade,
a morte se transforma: em apenas parte da verdade!

para Mariana Puglissi
 

3 coisas


Tem que coisa que para dar nome
Tem que escrever um livro!
...

Já há muito tempo ouvia as cordas brasileiras
e gostava, sem saber se era choro ou samba.
As músicas que não tinham nome.
...

Não é uma cachoeira para lavar a cabeça,
mas é uma fonte jorrrante!

Minha mãe disse


A vida é um eterno lapidar de relacionamentos.

Da última chuva


Uma dor pequena foi pingando...
Até se transformar
em uma chuva sem tamanho!!!

A cólera


Do colarinho.
De coleirinha.