18.10.23

O beiço do vírus

 Li teu livro num sopetão, como se deve ler um livro endiabrado

Indiabradis, como diria o filosófis

Indócil, pra dizer o mínimo


Li teu livro ouvindo Grime, a discotecagem de Jacqleone

Funciona bem, é visceral pesado massudo e rápido

Ligeiro demais como uma bunda gostosa ritmando atabaques divinos


Amei teu livro de capa preta desde que abri o envelope pardo que o trouxe

O visual cyberpunk e a contaminação imediata: no princípio era o Vírus

E achei engraçada a dedicatória, pois sonhei com você antes dela chegar


Li teu livro rápido demais, e ele cortou minha mão, no polegar da direita


para Natália Nolli Sasso


31.5.23

O dia do meu nascimento

 As dezessete laranjas que minha mãe comeu grávida

18.5.23

Lânguidos

 Olhos que ensejam paixão

10.4.23

Na Lua


Sonhei que a gente se beijava

sentados no meio-fio

e eu sujei o teu batom


3.4.23

Abril despedaçado

 As águas de março foram tormentosas

30.3.23

Grime

o Grito que nasceu

da minha solidão

para AntConstantino e Leigo Records

17.3.23

Engrenagens subjaccentes

 
Auspiciosos redemoinhos

do vento que sopra no vazio d' meu peito

faz um barulhinho bom

para Angelina Corrêa Renard

16.3.23

Cacofonia de máquinas

 
A estranha sinfonia de uma rua metropolitana

14.2.23

O que é a vida?

 Super caleidoscópio


Explosão solar


Sen


si


bi


li


da


de


Rompendo o silêncio da noite:


(Vazio da morte eterna)


Sinfonia de Caos


para Abujamra


Em moto perpétuo


 O automóvel é um animal de rodas

correndo atrás do próprio rabo


19.1.23

Querida Isabela

 

Li teu livro, Compêndio para moças de olhos lânguidos, cuidadosamente elaborado, sério, impecável, porque imbuído da determinação de um raio de luz que adentra no fundo de um arquivo morto, um cemitério, antes hospício e prisão, mas de onde, escamoteadas por todas as pilhas de papéis e fungos e ácaros, toda a taxonomia burocrática e perversa que mutila qualquer subjetividade, de onde se capturaram vidas, das quais, todavia, ainda que tenham deixado esse plano terrestre, é possível escutar, um pulsar.


Li teu livro de maneira célere, porém intermitentemente terrificado, sentindo-me algo sufocado, porque sem fôlego, mas também prazeroso por haver imergido e estar submerso por vontade própria, tornando-me absolutamente encantado pelo labirinto da fauna de cabeça de útero, a vaca profana que pariu o Minotauro, Pasífae era seu nome.


Ponderei sobre a Carta XI do Tarô, Força, a mão da mulher sobre a cabeça da fera.


E sobre o uso excessivo da força – típico dos homens – a absoluta covardia.


Que tortura, desfigura, estraçalha, dilacera


A vida quente, tenra, mole e absolutamente frágil


Que teima em se revigorar a cada dia


Como a relva grassa


Como a luz da manhã


No mais, gostaria de conversar com você sobre cada um dos textos e imagens que compõem teu livro, minha querida amiga jogadora de filacantos, sobre todas as minúcias que contêm, muita riqueza, toda joia é um fragmento, mas teu livro é um caleidoscópio de pedras preciosas. Estou maravilhado com tua coragem e feliz por tua existência, que encontrou seu “chão” em vida, e mira as estrelas no firmamento, tuas iguais de outrora.


Ps. Acredite ou não, pouco antes de ler “coração imortal”, escrevi o poema “vulnerável coração”, o qual compartilho contigo:


Vulnerável coração

 

Meu mestre, Daisaku Ikeda, disse uma vez:

“a paixão é um sentimento por demais tempestuoso

para deixar que lhe conduza a vida”

 

A pessoa que se apaixona (de maneira não correspondida)

Fixa morada (arma uma barraca)

Às margens de um rio (espiritual)

Do qual ela não beberá a água (néctar dos deuses?)

E nem pescará o peixe (o pão nosso de cada dia)

Sendo que, eventualmente, esse mesmo rio transbordará

Levando embora barraca e sonhos

 

A pessoa que vive uma paixão (não correspondida)

Anda desprotegida na noite escura

Desarmada no breu da noite

Roendo as unhas pela madrugada

Cheirando pelas esquinas uma flor nenhuma

À procura de luz

 

E mesmo que a lua surja

No caos da madrugada

E seja eu mesmo que brote da terra

Apenas poderei ver teu brilho

Espelho perfeito do sol

Sem nunca, jamais, tocá-la

Nem mesmo em sonhos

 

A pessoa que se apaixona

No caos da madrugada

Se lança ao mar

Em frágil embarcação

Sem temer a procela

Que decerto há de devorá-la


E, ainda que, no momento derradeiro

Deseje ardentemente sentir o vento oportuno

Aquele que leva de volta a um porto seguro

O caminho é para a frente, e sempre abaixo

Afinal, é da natureza da água descer ao nível mais inferior

 

Assim foi no cortejo de Quincas Berro D’água

Aquele que morreu duas vezes

Amando aguardente mais do que a própria vida


Decerto, mestre, que viver não é preciso

Mas navegar sim


para Tântalo, e tantos outros


18.1.23

Itambé


 Ainda guardo a hematita que você me deu

E a marca que ficou no meu coração

1.1.23

E ninguém é de ninguém


 Cada um cuida do seu

Deus cuida de todes