26.4.18

Se morder machuca


Boquete!

Coisa mais linda que tem no mundo!
A confiança, a entrega
o deleite

Caiu como uma luva


uma mão na Roda

para Ronnie Almeida

25.4.18

Porosa


uma parede entre nós
cada vez mais fina
transparente
sólida

como o dia e a noite
entre o crepúsculo e o amanhecer

a névoa da noite passada
dissolvendo à chegada do Sol
rebento

orvalho deitando à Terra
umidade relativa do ar

21.4.18

para de novo acordar



a nível de rotina, todos nós, seres humanos, somos, do mais vilipendiado meliante ao mais alto sacerdote, seres cagantes e andantes, que precisam beber água, cevada, comer, trepar e dormir

quando Zumbi chegar


com tanta poluição, quem precisa de zumbi?

para Luiz Gonzaga da Silva e Jorge Ben

19.4.18

Al Ternativa


ridicularizar a má fé Al Lheia

para Ana Amélia Lemos

14.4.18

Saturno pirata



Sonhei que comia, mastigava uma nuvem nebulosa
e então algo se rompeu dentro da boca
Emaranhado

Cuspi, e reconheci ser um dente, achei fascinante e fiquei aterrorizado. Olhei para ele, virei o de ponta cabeça, estava em parte oco, parecendo uma caramujo do mar, madre pérola, mas também pedra salina, calcária. Passei a língua pela boca, tentando reconhecer o buraco. Olhei de novo para o dente, era um canino, claro. Então finalmente encontrei, o superior direito. Olhei no espelho, lá estava o sorriso banguela.

para Monkey D. Ruffy, que atravessou o território da Big Mom

12.4.18

Boa noite


Não confunda fortaleza com estandarte

para Djavan

movimento Dado


"no planets in the house"
no mapa natal, não quer dizer que elis
não estejam ali, oh no!
Elis vão pisar lá

para Mallarmé

Bons tempos


Na época em que eu era jovem e ingênuo
Eu gostava de fazer arte naify

para Juliana Okuda

maledicência


o índio Bugre
que nem sabe de onde é

(mas suspeita do que seja
seu Tekoha,
seu lugar de direito)

nem por isso tem menos orgulho

Visionário cego


Urbanista de sola
Artista de peito

3 idéias, 1 dormência


Cruzar com uma pessoa
e olhá-la nos olhos
é uma performance que acontece a todo momento

...

Havia um par de sapatos prostrados ali
no meio fio da esquina
como que um convite à calçá-los

...
...
...

Nem tudo é pela via do visível
Nem tudo é pela via do palpável

...

meus pés são martelos
batendo no chão

9.4.18

que sabe das coisa


chama o Lula de ladrão
mas se amarra naquele tiozão:

 gordo que comanda o churrasco
chachaceiro e segura a festa até o fim
malandro, daqueles que conserta a casa
que manda a real, e fala umas putaria
mata a bola no peito como ninguém
tranquilão, mas toca instrumento que nem o 7 perna

para Abílio Guerra

Si vis pacem, para bellum


futebol é a arte da guerra emulada na perfeição teórica do jogo

para Bruno Monteiro

Três tarefas para o início da noite


um poema
um relatório de visita a campo
um mapa astral

like the Sun


my hair is beautiful

Ouroboros



A serpente de ouro
O rei na barriga
A mulher na cabeça
O prato de comida

amante da Vida


Não aceito nada menos que uma entrega completa
sem pudor e capricho
completa

Uma entrega algo desesperada
e sôfrega
mas carinhosa e decidida
tranquila

Como a moça bonita no poema de Whitman
que se arruma toda e se entrega
para o primeiro que aparecer

7.4.18

Sobre morrer de pau duro


Eu perdi
Saturno venceu

Minha quebrada


Eu podia tá colando no churrasco
em Curitiba
ou São Bernardo

Mas vou dar um pulo na ZL

o Corpo disforme brasileiro


do drible de pernas tortas
à prisão do nove dedos

passando pelo Cangaço
pelo Sertão
pelo Xingu

entre a chibata e o tambor
respira de novo
renovado e velho

5.4.18

Pasíphae


Tradução do poema de Alec Derwent Hope, publicado no livro Poems, Londres: Hamish Hamilton, 1960.


There stood the mimic cow; the young bull kept
Fast by the nose ring, trampling in his pride,
Nuzzled her flanks and snuffed her naked side,
She was a Queen; to have her will she crept

In that black box, and when her lover leapt
And fell thundering on his wooden bride,
When straight her fierce, frail body crouched inside
Felt the wet pizzle pierce and plunge, she wept.

She wept for terror, for triumph; she wept for know
Her Love unable to embrace its bliss
So long imagined, waking and asleep.

But when within she felt the pulse, the blow,
The burst of copious seed, the burning Kiss
Fill her with monstrous life, she did not weep.



Lá estava a vaca imitadora; o jovem touro fungou
Rápido pelo piercing no focinho, atropelando o seu orgulho,
Roçou seus flancos e farejou sua parte nua, sem pudor
Ela era uma rainha; para valer a sua vontade ela rastejou

Para dentro daquela caixa preta; e quando seu amante a montou,
E trovejando em sua noiva de madeira desceu, quando
Duro penetrou-a feroz, corpo frágil acocorado por dentro
Sentiu o pênis molhado a perfurá-la e mergulhar, ela chorou.

Ela chorou por terror, por triunfo; chorou por pensar
Que seu amor era incapaz de abraçar sua felicidade
vigilante e adormecida, há tanto imaginada.

Mas quando dentro dela sentiu o golpe, o pulsar
Do beijo ardente, o jorro abundante de sementes
A preenchê-la com uma vida monstruosa, ela não chorava.

com Suellen Ciccotti