9.1.17

o (bom) teatro


É uma máquina de guerra por excelência. Porque, imagino, tem que haver um ótimo consenso entre seus participantes, artistas, direção, figurino, iluminação etc, sobre aquilo que se vai apresentar, tem que se colocar as cartas na mesa todas, do coletivo, um jogo micropolítico, toma lá da cá, de barganhas, a fim de ver qual é a moral da história - aos vencedores as batatas (Tchecov) ou tudo acaba em pizza (Veríssimo). Sob o risco de, não o fazendo, dizer o que pensa, inviabilizar-se a pessoa artística, ou seja, aquela que, em essência, deve expressar-se livre, plenamente (apesar e a partir de todas as condicionantes contextuais). Para que assim, a máquina de guerra do monólogo ou da companhia circense cigana e teatral faça o que tem que fazer de melhor: ritualizar o passado, celebrar o momento presente e, principalmente, transmitir uma mensagem ao Público, numa semente de futuro. Independente de causar êxtase ou asco, dependendo de quem o sinta, o ritual deve ser cumprido, e o espetáculo tem que continuar. Essa é uma palavra de ordem, e um convite à sua subversão.

7.1.17

Mundo


Nave
Abismo
Roda moinho

Globo celeste
Mar
e Terra

Partícula atômica
Núcleo
bola de Fogo

Ar
Etéreo
Vento e maré

Viagem sideral
Paz
e Guerra

4.1.17

Complicado


entre 8 ou 80
eu sou 44

Kundalini


Nó de marinheiro
Molhado
Duas serpentes
Enroscadas

Medusa
Ofíuco
Andrômeda

do Céu 
As divindades testemunham
A jornada

serpenteando pelo corpo descontrolada
chuva de gozo

na fresta oportuna do momento
Fogos de artifício

Do buraco da minhoca
às explosões intergalácticas
de chakra os fluxos
Embrenhados de karma

Uma terceira carta
Certeira flecha
A bela e a fera
O desejo e a palavra

Na sola dos pés
Passando por todos os poros
dilatados absorvem

a polpa e o suco
Exalam
perfume

Narina
língua
molhado toque

A cachoeira do corpo
dragão ascendente
à luz da lua
As carpas nadam

Rastejando e lambendo
Como uma cobra
a terra roxa
a relva turva

Adormecida na lombar
Acorda

A flora
A voz
olhos mudos como bocas
orações cantadas

A conquista do prazer
em meio a um campo de guerra

Do deserto ao mar
dobrar os joelhos
submergir e ascender

Ter fé
Num rabo de saia

1.1.17

Luz interna


Lembrando agora de uma situação muito antiga, final da década de 90: era bem xofem, indo do metrô para para casa, voltando de alguma balada, o sol nascendo, o bek em brasa. Encontro com um sujeito de bike, negro, de óculos, magro, expressão séria, pensando agora diria que parecia o Cartola (naquela época em que fumar na rua implicava trombar malandros de toda ordem, ceder ou pedir um "pega", ouvir uma história qualquer), ele me conta que trabalha no Instituto Médico Legal - IML, no centro, e que vai e volta todo dia de bike (dali do fundão da Penha, naquela época não tinha ciclovia), que trabalhando todo dia com gente morta queria mais é se sentir vivo, e naquela alvorada o Sol nascia mesmo era de dentro daquele homem.