19.8.13

O contrário da piedade é a produção


Aqui no prédio em Saint Dennis, durante o dia, alguém fica tocando um piano, bonitos acordes, sobretudo menores, algo melancólicos. Toca alguém sem objetivo musical, só o lento ritmo de um mesmo acorde, depois outro, como uma reflexão, introspecção, como a tentar lembrar de algo, ou reforçando uma lembrança. Talvez os dois.

Lá no prédio onde moro, em São Paulo, também durante o dia, estuda diariamente um guitarrista, velho de guerra provavelmente, pela sofisticada improvisação das escalas de djéiz, poderoso argumento.

Minha família é musical, poderia mesmo ser a Fá Sol Lá Si Dó. Tenho muitos amigos músicos, jovens ou velhacos, excelentes músicos. A música está em volta a todo o momento, em meio ao ruído das máquinas e do sofrimento. Um mundo de música no silêncio distante do espaço sideral. A sinfonia dos deuses, estrelas, constelações, não astronautas. Essa gratidão até Nietzche concorda, penso eu.