Achei o último Igarapé no fundo do meu coração e nele lavei minha alma
Simone Sapienza Siss
A produção de um vídeo é o Exercício final proposto para a
conclusão da disciplina Urbanismo e espaços públicos: interpretações e projeto,
ministrada pelos professores Luis Guilherme Riviera de Castro e Igor Guattelli.
Neste roteiro, serão elencados alguns tópicos da disciplina para embasar a proposta
do vídeo, que irá registrar um percurso de uma série de espaços públicos no
centro de São Paulo, com tempo de cinco minutos.
Mauro Caliari e o ato de flanar pelo espaço público, lugar
de temporalidades distintas e sobrepostas. Fernando de Mello Franco e a visão
transversal do território, conectando os pontos em busca de visão eficaz da
política pública como indutora de qualidade de vida urbana. O rizoma de Guilles
Deleuze e Félix Guattari e as Heterotopias Michel Foucault. No texto O Pêndulo
de Foucault, Umberto Eco diz o seguinte:
Em primeiro lugar, a abundância de espelhos. Se há espelho,
é estágio humano quereres ver-te nele. Mas nestes não te vês. Tu te procuras,
buscas tua posição no espaço na qual o espelho te diga "estás aqui, e és
tu mesmo", e acabas te danando todo, te aborrecendo, porque os espelhos de
Lavoisier, sejam côncavos ou convexos, te desiludem, escarnecem de ti:
arredando-te, tu te encontras, mas depois te deslocas e te perdes. Aquele
teatro catóptrico fora disposto para tolher-te toda identidade e fazer com que
te sintas inseguro de teu lugar. (...) E te sentes não apenas inseguro de ti
mas igualmente dos objetos colocados entre ti e outro espelho.
Mas como ver a si mesmo? Ou antes: como se ver refletido no
espaço público? Essa a questão inicial colocada por Foucault na Hermenêutica do
Sujeito, e é a questão que Sócrates faz a Alcibíades: quais cuidados deve
observar sobre si para que possa governar a cidade? Inversamente, olhar no
espelho é ver o outro, o que está fora, como o reverso de si mesmo. O ciclo
seria então como a realização daquela certeza que, frente ao espelho, existe
apenas como reconhecimento da dúvida.
Então, no vídeo, a primeira cena aponta para um lugar que, se
verá, de chegada, para o fim do vídeo; e a última cena, no lugar de chegada,
observa-se o ponto inicial, onde tudo começou. Haveria, nesse sentido, uma
consistência do início ao fim, bem como uma espécie de ritornelo, onde tudo
pode ocorrer novamente, ainda que nada seja exatamente a mesma coisa.
O vídeo se dará em plano contínuo e irá enquadrar uma série
de elementos urbanos e humanos justapostos. O percurso do vídeo demonstrará a
relação cambiante entre estes elementos e suas propriedades topológicas, as
quais constituem diferentes densidades e ritmos de um mesmo continuum de espaço
público.
Sobre o áudio, a idéia é falar os nomes próprios dos
elementos e discorrer sobe toponímias e afins conforme estes forem sendo
filmados. Essas nominações seriam como os pontos que o plano contínuo do vídeo
vai costurar, Connecting the dots. O percurso visual do vídeo, uma
heterocronia, tanto mais vai variar em densidade e ritmo conforme varie o áudio
agenciado: uma coisa é agenciar uma narração, outra é agenciar uma música,
outra seria o vídeo mudo. Cada agenciamento específico vai gerar diferentes
reverberações, como as ampli[ficções] de Carlos Marchi nas polikatéias de
Atenas.
Desse modo os pontos são os seguintes: Cobertura do
Condomínio Viadutos, Estadão Lanches, banca de Jornal, ponto de Ônibus, porta
giratória de banco, calçada da Mithes Bernar, Viaduto Nove de Julho,
parapeitos, pixação, Avenida 9 de Julho e Córrego Saracura, Viaduto Major
Quedinho, Praça da Bandeira, Graffitti da Simone Siss, sinalizações, carros,
praça, cruzamento, Rua Santo Anônio, Praça General Craveiro Lopes, Bar do
Alemão, portão, porteiro, hall do prédio, lustre, elevador, câmera, terraço,
mirante, banca de jornal.