22.11.17

Brevidade


Ouço tua voz gravada no celular. Poucos segundos. É uma pequena parte sua, de você, e cada pedacinho tem tanta graça! Ouço tua voz como quem volta para casa. Me pega de susto às avessas: o coração, ao invés de disparar, acalma. É noite alta, mas ouço sua voz e me assaltam poemas de rios que rumam ao interior longínquo, antes de voltar para o mar, noites frescas de cascatas, estar com você junto ao lago, noite quente, estrelada, todas essas cenas que inspiram água, espelho de ti no qual mergulho. Ouço tua voz e sinto tua língua, boca, nariz, o cheiro quente do teu corpo, tua respiração me anima, imaginá-la ofegante, me transformo em corvo, tenho vontade de voar até você, roubar presentes bonitos e brilhantes, ofertá-los aos seus pés, em seguida massageá-los, com mãos fortes e delicados toques. Tua voz me comove, em meio ao barulho das máquinas, poucos segundos, mas por hora aguardo o intervalo entre o cessar das engrenagens e a possibilidade de te ver, de olhos fechados, ouvindo mais uma vez a sua voz. A Lua em Peixes faz trino com Sol e Júpiter em Escorpião, e o silêncio encontra o sonho, em meio ao dia, no presente da sua voz, a vontade de te ver é uma delícia que a panela do tempo cozinha, ponho água no feijão.

original de 31 de outubro de 2017