Ouço tua voz gravada no celular. Poucos segundos. É uma
pequena parte sua, de você, e cada pedacinho tem tanta graça! Ouço tua voz como
quem volta para casa. Me pega de susto às avessas: o coração, ao invés de
disparar, acalma. É noite alta, mas ouço sua voz e me assaltam poemas de rios
que rumam ao interior longínquo, antes de voltar para o mar, noites frescas de cascatas, estar com você junto ao lago, noite quente, estrelada, todas essas
cenas que inspiram água, espelho de ti no qual mergulho. Ouço tua voz e sinto
tua língua, boca, nariz, o cheiro quente do teu corpo, tua respiração me anima,
imaginá-la ofegante, me transformo em corvo, tenho vontade de voar até você,
roubar presentes bonitos e brilhantes, ofertá-los aos seus pés, em seguida
massageá-los, com mãos fortes e delicados toques. Tua voz me comove, em meio ao
barulho das máquinas, poucos segundos, mas por hora aguardo o intervalo entre o
cessar das engrenagens e a possibilidade de te ver, de olhos fechados,
ouvindo mais uma vez a sua voz. A Lua em Peixes faz trino com Sol e Júpiter em
Escorpião, e o silêncio encontra o sonho, em meio ao dia, no presente da sua
voz, a vontade de te ver é uma delícia que a panela do tempo cozinha, ponho
água no feijão.
original de 31 de outubro de 2017