28.5.18

e eu tenho que alimentá


desculpa ai interrompá
essa crise nacioná
só passei pra falá
que minhá tesá tese
se transformou num dragão
de cinco cabeçás
que exigem comidá

24.5.18

de desenhar


pego duas linhas a 30°
em relação a uma terceira esta
reta

horizontal ou vertical
tanto faz e daí pra uma isometria é um passo pra alegria

23.5.18

bate a bunda no rio


na borda d'água
Mercúrio desafio

garimpar ouro
o cú teso

19.5.18

Chupeteiro sim


uns xegote que encaixa

língua na xoxota
pau na boca
nariz no cú
chupá cú!
nariz no sovaco
mordida no braço
chupá teta
manipular tetas
chupá dedão do pé
polegarzinho
cheirá o cangote
língua na orelha
morder orelha
chegar lá

Xegote

Shangri-la

Onanista sim


punhetinha boa
xavecada de dedo

18.5.18

Magenta


a caneta roxa estava ali
me esperando
na estranha gaveta

16.5.18

11 filmes vitais de 2011

1. Mamute

A velhice, cansaço do espírito? A vitalidade vem de abrir os caminhos, o coração, o nariz, o pulmão, a cabeça e a bunda. Uma piscina em alto mar. Uma motocicleta, um clássico. A carne que se mata e se come sustem a vida, impregnante morte. A imaginação solitária de um ser escolhido, escondido nas multidões. A história em vários níveis, momentos, factíveis à surpresa e ao contraste.

2. A Partida

O violoncelo e a música, a profissão e a vida. A vida e a morte em cada momento, em cada refeição. Um casal, que faz do fracasso alavanca para a transformação. O professor e a matriarca fazem do seu ofício o reconforto e o tesouro. O ritual que encerra a última fantasia. A tempestade e a água-bonança, a dança das ondas sobre a imensidão profunda.

3. Viajo porque preciso, volto porque te amo

A paisagem de cada ser, um ser imenso. A sonoridade da voz que ecoa em cada cabeça. A paisagem e o território, a vastidão e um personagem suspenso. A dureza do árido e a ância de uma vida-lazer. Do fim do Prazer, ao prazer pelo Cotidiano. Uma vida-lazer, em meio à dureza da pedra, onde pinga ou não a água benfazeja. Do penhasco ao mar, o salto na imensidão.

4. O segredo dos seus olhos

A vida cotidiana continuamente acaba e recomeça. Sob o olhar sublime da morte, persevera a a autoridade do bizarro. Ao silêncio da morte sobrepõe-se o grito de amor. persevera ao medo. O eterno duelo entre dor e desejo, entre o dever e o direito. Uma história a ser sempre recontada, para não ser esquecida, para renascer ao ser relembrada.

5. A pele que habito

O espírito preso no corpo, junto a pele. A ação artificial que mascara a si mesma, máscara do outro. A animalidade que sobrepuja o homem: mais uma fantasia. Ou uma máscara de ferro. A submissão versus a emancipação, uma batalha constante. A capacidade de criar loucura na racionalidade. Transformação.

6. Melancolia

Explosão galáctica: o começo do fim. O casamento entre os astros e a impossibilidade de um contrato garantido com a imortalidade. A chama que se apaga, eternamente. Como a pedra que ecoa e afunda quando atirada ao mar. Nesse momento, uma pausa para a reflexão e a serenidade, outra para a paixão e o desespero.

7. Paradise Now

O cerco vai se fechando, numa densa invasão. A psicologia ideológica das barreiras e dos muros. O confinamento martirizante, tão desnecessário quanto sufocante. A impossibilidade de resistir, irredutibilidade de se inconformar. Da conformação subsistente à explosão da inconformação intolerante. A luta, derrame de martírio de si mesmo à negação ao outro. O transbordamento de nosoutros.

8. Meia noite em Paris

Aquele tempo bom que não volta mais. Esse tempo de agora difícil de se acostumar, tão invasor, tão voraz. Tão pouco espaço para sonhar a lembrança de um momento antigo como esse de agora. Mas tanto espaço para sonhar, se dentro de ti a um mundo que anseia e confia no porvir. Que tempo bom que olha nos olhos e te atravessa, convida uma história, e não volta nunca mais.

9. For eyes monster

Aquele amante, aquela amada diversidade, de estar enrolado em seus braços. E cheirar os seus cabelos, e curtir o seu abraço. E do nosso encontro constituirmo-nos em ábaco, espelho espiritual. A chancela do corpo, as asas do espírito. Cada um tem uma asa: o abraço e o impulso.

10. O céu sob os ombros

Somos três, pra mais de mil. E em momentos análogos nos comunicamos experiências complementares, e completamente diversas. A pressa que discorre sobre esse tempo que eu não sinto, mas tenho que suportar. Essa curva inesperada, que eu devo suportar. Essa conformação inútil que eu devo superar. O preço que se paga exatamente pelo que se vive. E as coisas simples e complicadas de se viver.

11. A cidade/ O império - dos sonhos

Dois filmes em um. Uma experiência bipartida. O onírico que avassala tanto o pesadelo como o sonho idílico. A cidade, o desejo, o império dos sentidos. Saturando-se, até o amargor da boca. Até o porão profundo que continua, numa escada de moebius, até o teto. O porão do sótão tem uma janela empoeirada, com vista para a cidade. Cilada?


Adernar


Verbo difícil
pesado
desequilibrado

como um bêbedo
que tem que agir rápido

precipitando-se
lentamente
para o caos

para Carlos Palombini

14.5.18

Vertiginoso


Tesão

13.5.18

Grande Comedor de Sushi


Recebi
da Batchan matriarca
o título honorífico

Há vida nos trilhos


do vagão em que me equilibro
para dele me conduzir
o som da máquina
das pessoas
atravessam
me

Depois do Tatuapé
o trem balança um pouco mais

11.5.18

Profano sim


um segredinho sujo
um pecadinho bom

Ninfomaníaco sim


um sexo bom

Narcisista sim


um espelho bom

um mínimo de estabilidade


um teto
uma chave
uma janela

um céu
um coração
uma tenda

Macumbeiro sim


um Buda bom

Asceta sim


um jejum bom

Hedonista sim


um vício bom

10.5.18

fundo de Mar



Afastei-me bruscamente. Não que não quisesse ficar, pelo contrário: não queria ir embora.

Não mesmo, daquele lugar tão brilhante e colorido, como um fundo abissal de mar, onde a luz do Sol não chega, noite eterna, mas de onde pululam vidas fosforescentes e voluptuosas, magnânimas e terríveis. Noite fantástica e fabulosa, Lua de sonho constante, que arrasta mares; onde independe terra e continente, os olhos, pequena parte da vastidão da Terra, do fundo se insinua o grande Ovo.

O mundo está de cabeça para baixo, e a ponta da pirâmide do pensamento aponta para lá, para o fundo que também é alto, e a ponta girando como um peão, turbilhonar, criando desafios. Uma dança de povos. E uma dança de acasalamento de polvos.

Mas só um astronauta poderia saber disso.

De lá de cima do céu da terra chove a Morte; aqui no fundo, no alto, tudo o que lá em cima vive, morre para depois cair,

lentamente,

até o bojo do leito oceânico, sob a pressão de mil atmosferas.

Uma vida contrária, seguindo o rumo e os caminhos dos rios, os cabelos d’água que se unem todos na cabeça dessa Nossa Senhora dos mil afogados, Mar.

Mas quem se acostumou, por milênios, a carregar esse peso no ombro, hoje dança com desenvoltura e explosão equivalente a terremotos e vulcões. Enquanto a superfície é tempestuosa, o mergulho interior é impassível, lento e saturado, nebuloso e preenchido, perene.

Como um abraço apertado.

Mas um abraço pode ser terrível, pois aquilo que aconchega também pode imobilizar.

Assim um polvo que abraça outra sorte, núpcia divina.

Assim um povo que esmaga outro, depois abraça.

O povo é o contrário do homem. E também o polvo. Toda existência ali é passional: há razão no tato. Sentir a força das massas, de água, de carne, de luzes, saber a história ancestral que liga a tudo e a todas, as pequenas histórias no fundo do mar são tão caudalosas que arrepiam até os cabelos da velha senhora, pensamentos tempestuosos geram chuvas moças, arredias, raivosas e benevolentes, como o machado que desce do alto, e a fonte que, de baixo, subiu, jorrou.

Visse isso um astronauta que falasse a língua dos povos, e dos polvos, e dos anjos, teria também que ser habilidoso escafandrista, dado que sua rival, seu par antagônico, o foco da lente da sua câmera fotográfica, apenas graça ou brincadeira, é capaz de devorá-lo, e isso como uma forma de carinho, de contato, de paixão.

para Suellen Siccotti

9.5.18

Uma dúvida


não é questão
necessariamente
de descrença ou esperança

a necessidade de silêncio


da inutilidade de se bater em certas teclas

8.5.18

na palma da mão


o fundo do mar contêm vulcões

5.5.18

Herói da nação


País do Colapso

para Fernando Tatuage

ao sair na rua


embevecer-se com a luz do Sol

4.5.18

que nos fez tão mal


o Japão eu sempre amei;
mas nunca imaginei que fosse amar tanto Portugal

1.5.18

Regorjizar-se nas dores do mundo


uma centelha
de facas giletes
nas palmas
das mãos