24.10.17

Da dificuldade de equiparar experiências


A quantas anda a sua pesquisa?

É essa pergunta terrível e assustadora, embora tão cotidiana, que vai se repetir eventualmente conforme se desenrolem conversas eventuais ou fortuitas entrecolegas, seja de mesma profissão seja de outras áreas. “Ah, vai bem”, “Ah, vai que é uma merda”, “Nossa, descobri uma coisa inusitada mas não vou te contar senão você rouba minha idéia!”.

Vai lá fulanis, fala sobre sua pesquisa.

É muito difícil falar sobre a própria pesquisa, mesmo quando o subject de quem pesquisa é muito claro, a pesquisa deve(ria) sempre conter alguma novidade, mesmo que com uma base sólida, de modo que uma pequena novidade desencadeia, como um pavio, uma pergunta inquietante: mas por que assim?

Mas por que assim? Quais são os autores, as referências da sua pesquisa?

Olha, o subject navega por vários autores, tenho referências, livros consagrados, teses aprovadas e citadas, artigos internacionais de vanguarda, e mais ou menos experiência in loco, de campo, etnografia, bater pé e levantar parâmetros de observação a partir de uma experiência in loco. E autores que bateram lá suas pernas, realizaram viagens maravilhosas, e sínteses invejáveis, de cidades e projetos.

Mas e a estrutura, e a estrutura da sua tese? Prefácio? Capítulos? Quanto são?

A estrutura é um esboço que vai mudando, um texto contínuo da pesquisa que vai sendo tecido e cortado e recosturado, patchworking, e cujo andamento, ritmo, vai variar caso a caso. Escrevo uma tese, um artigo, um poema, uma carta de amor, escrevo e erro, rasuro, cada coisa tem um tempo diferente, e a estrutura vai se moldando, endurecendo ao mesmo tempo que não, porque tudo que endurece demais quebra, então há de se manter flexível, como um pinheiro se curva à tempestade, senão quebraria, anedota de merda, mas tão verdadeira, eis que quebramos.