Pássaros não tem pouso fixo, mesmo quando fazem ninhos.
Exceto o João de Barro, esse construtor das asas leves, casas de adobe. Enamorados do vôo, uma
hora cá outra lá, sábias pausas, sabiás cantantes, da impermanência fazem natureza. Duas andorinhas, insustentável leveza, colibris. Das janelas pra cá, outra
lá, o corpo nu no atelier, um chapéu de coco na cabeça, em frente ao espelho,
continente, casa. Faz graças, rebola, hipnotiza, escapada faceira e gatuna. A
plenitude de estar só, o deixar-se estar, estar-se nua, à vontade nudez. Cupido
nasceu de um sonho assim, Carta VI, aquela que observa do outro lado do
espelho, um corpo entre duas: vontades, do outro, reflexo, outras reflexões. E
uma voz sussurrando da vitrola, “são dois pra cá, dois pra lá”. E pra nascer quebrou o Ovo primordial. Duas vozes, em
cada ouvido uma, Prelúdio de amor. Duas asas, uma flecha, o arco teso,
infantil, mas poderoso, divino e mortal. Três corpos, de dentro, de si, do outro, a outra face, dar. A música faceira, o canto dos pássaros, a
primavera que chega cinza de amarelas cores, prenhes meditações, solitárias
metáforas. Olhar cupido, observa as triangulações dos corpos, tetraedro
desejante, xadrez às cegas, luzes, folhas, pessoas. Nunca dois, só a Lua e o
Sol. Duas cabeças, uma morte, três sentenças. E a matilha de cães uivando pra Lua,
caranguejos no mangue, quando o Sol chegar nos abraçaremos, enamorados de
afetos.