1.7.13

Sobre a Copa das Confederações e a Revolta dos Desconsiderados


Caderno de notas de um arquiteto canhoto.

Hoje minha consciência se expandiu. Eu trabalhei nos projetos da copa por um tempo, e via aqueles perímetros de isolamento no raio do estádio, mas eram só linhas abstratas, não me diziam muita coisa além do que mostravam: isola-se um perímetro urbano para um evento específico, sob custódia de uma administração local.

Nos últimos dias é que pude perceber, AO VIVO na telinha, o que essas linhas significaram, de vários modos, seja através de fotos, vídeos ou textos, no cenário brasileiro atual: todas as gentrificações realizadas.

Esse evento específico, futebol, esporte popular, de especial e volátil ascensão - vulgo status quo, social, econômica, nos ânimos. E aqui no Brasil, terra onde se bate uma bolinha em qualquer lugar, justamente por ser um esporte popular, diz respeito à sua relação com o espaço público, o espaço em volta do estádio mesmo, sempre um “não lugar”, ou um lugar de devir, de passagem, ante à concentração para o espetáculo, que é na verdade um outro evento. E que, dando nomes aos bois, essa custodia que foi concedia pelo Estado à FIFA é INCONSTITUCIONAL.

Em miúdos, vetou em muito o direito de ir e vir, seja da galera da geral, seja das baianas do acarajé, seja dos capitães de areia, seja do vendedor de pipoca e caldo de cana, seja dos milhões de vagabundos que ficariam de vadiagem, aumentando a “festa”.

En passant, já que é inconstitucional, os caras bem que poderiam ter priorizado uma política “populista”, de boa-vizinhança, alargado a bitola do filtro, por a música e deixar tocar, mas não, os caras são muito idiotas e mandam DESCER O CACETE. Gostei do logo: DENTRO DO ESTÁDIO: TETRA – FORA DO ESTÁDIO: TRETA, nada mais sintético.

Mas, sobretudo, a questão é que esse espaço fora do estádio tornou-se palco de lutas da polícia, arma amalgamada Estado-FIFA, e manifestantes em protesto; para lá do público que consegue adentrar o estádio e conquista seu lugar cativo, afinal não tem arquibancada para todos, mas só para uma minoria seleta.

Parafraseando respectivamente Baudrillard, Debord, Platão e Marx, as maiorias silenciosas fazem sombra onde há espetáculo, por questão de ignorância e mais valia.

Parafraseando Foucault, há um problema de espaço, em um circuito de tempo.