20.6.13

Lembranças de um navio


Eu papel escrito,
tu garrafa,
nós no mar

Vós navegais.
Ele encontra e lê.
Eles escutam

Saudades,
Sabia?
Do seu corpo líquido,
da sua voz,
o mar dos seus cabelos,
um cheiro de vento,
sagrada Janaína

Depois eu esqueço,
mas eu sempre lembro também,
memória de cachorro vadio
perdido na praia.
Procura talvez seu dono,
aquele capitão de areia,
andarilho da velha cidade,
litorânea e portuária

Amantes sempre tem saudade.
Saudade de marujo,
saudade que vem de longe,
que dilata num porto distante,
e talvez volte à pátria antiga.
Provável que não volte e morra no mar

A saudade que o filólogo sente
da biblioteca de Alexandria

E o sonhador,
da cidade submersa de Atlântida
Antiga flor do sertão

Todas as fontes vulcânicas
de amores proibidos,
dos prazeres represados,
as comportas abertas

Das procelas do cotidiano
a humanidade vive rotina
enquanto no fundo do mar
movimentos mais lentos
movem o mundo e as histórias

Enquanto o navio segue sozinho,
lutando contra os ventos,
fagulha no oceano,

a confiança na bússola
a esperança de um farol,
a luz no fim do túnel,
da escuridão aquática

carcaças e o cais,
da rocha magma
polida no mar