Rascunho genealógico (paideuma catalográfico) sobre a
dissolução de um sentido específico de base nacional, no caso o Brasil.
Das trombetas que conduzem as bandeiras, aos textos que as suportam, em diante.
Perfazendo um elo entre uma
síntese de lembranças e um mosaico de atualidades. Acontecimentos mais ou menos passados e ou futuros, ondulando potências, e afinidades eletromagnéticas, captação, contato, combustão, explosão de situações, e implosão de signos e significados, nada mais nada menos que um mapa. O mundo como um reverb infinito e complexo de simples frequências. Afinal, as ondas de Schumman estão ai para além de qualquer nação, e as sinfonias de Schumman continuam possivelmente belas para qualquer ouvido mais sensível.
A bandeira do Brasil como a
absorvemos quando somos crianças e pré-adolescentes, como exercício de um símbolo máximo de
coletividade, com a qual temos deveres e direitos irrevogáveis (exclua daí gerações
de jovens não assistidos por serviços de necessidade básica: saneamento,
educação, saúde e alimentação, bem como aqueles que foram cooptados desde tenra idade pelos
aparelhos de captura estatais e privados, por ex, reformatórios, exercito, latifúndios,
corporações, pois ai a bandeira já se coloca como moeda de troca, mais-valia).
A adolescência, por outro lado, implica um desabrochar de crises, mais ou menos conscientes e superáveis, ao que varie seu sentido. Para muitos, Raul Seixas, Tim Maia, para outros Chico Buarque e Caetano Veloso, e Gilberto Gil e Jorge Ben, e Secos e Molhados, para outros ainda Roberto Carlos e Chacrinha, Mano Brown e Bnegão, para mim foi Renato Russo. Do punk ao pop, passando pelo rock. Até chegar em Chico Science, entre outros poetas de bandas radicais.
A bandeira do Brasil como a
criticamos quando somos adultos e lemos autores como Darcy Ribeiro, Milton
Santos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Mário Quintana, Gilberto
e Paulo Freire, entre muitos outros. Poderia citar vários filmes também, como o
recente Uma História de Amor e Fúria, de Luis Bolognesi, ou Pixote, ou Besouro,
ou Cidade de Deus, ou as filmografias de Glauber Rocha e Lucia Murat, entre
muitos outros. Ou quando estudamos a biografia de personalidades marcantes,
sobretudo idiossincráticas, como João Cabanas, Nelson Marighella, Carlos
Lamarca, Chico Mendes, entre muitíssimas outras. Ou quando ouvimos tocar um
choro de Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Radamés gnattali, um baião de Luis
Gonzaga, forró pé de serra, o piano de Nelson Freire, o violão de Baden Powell
e Yamandú Costa, o samba de Cartola, da Clementina de Jesus, a voz de Clara Nunes, a polifonia inventiva de um Hermeto Pascoal, entre muitíssimos
outros seres iluminados de música. Ou quando presenciamos uma peça de Wladimir Capella, Ariano Suassuna ou Plínio Marcos. A performance de Hélio Oiticica, um território poético de Nuno Ramos, a pintura de Tomie Ohtake, um graffitti d'Os Gêmeos. Ou quando, viajando Brasil afora e adentro,
observamos a palheta de costumes e territórios em grande quantidade e
diversificação.
E tomamos consciência da confusão
e emaranhado infinito de acontecimentos que são as relações humanas, às quais buscamos esclarecimentos e resoluções, e talvez um pouco de utópico bom termo. Dai a ambiguidade e contradição pela qual passa tanto o que afirma como interroga.
"Sou brasileiro!"
"Sou brasileiro?"
Brasileiro cidadão do mundo.
Fervilhante mundo em brasa.
Bandeira desbotada, corpos à mostra, colcha de retalhos. Coletivo nacional...