Meu mestre, Daisaku Ikeda, disse uma vez:
“a paixão é um sentimento por demais tempestuoso
para deixar que lhe conduza a vida”
A pessoa que se apaixona (de maneira não correspondida)
Fixa morada (arma uma barraca)
Às margens de um rio (espiritual)
Do qual ela não beberá a água (néctar dos deuses?)
E nem pescará o peixe (o pão nosso de cada dia)
Sendo que, eventualmente, esse mesmo rio transbordará
Levando embora barraca e sonhos
A pessoa que vive uma paixão (não correspondida)
Anda desprotegida na noite escura
Desarmada no breu da noite
Roendo as unhas pela madrugada
Cheirando pelas esquinas uma flor nenhuma
À procura de luz
E mesmo que a lua surja
No caos da madrugada
E seja eu mesmo que brote da terra
Apenas poderei ver teu brilho
Espelho perfeito do sol
Sem nunca, jamais, tocá-la
Nem mesmo em sonhos
A pessoa que se apaixona
No caos da madrugada
Se lança ao mar
Em frágil embarcação
Sem temer a procela
Que decerto há de devorá-la
E, ainda que, no momento derradeiro
Deseje ardentemente sentir o vento oportuno
Aquele que leva de volta a um porto seguro
O caminho é para a frente, e sempre abaixo
Afinal, é da natureza da água descer ao nível mais inferior
Assim foi no cortejo de Quincas Berro D’água
Aquele que morreu duas vezes
Amando aguardente mais do que a própria vida
Decerto, mestre, que viver não é preciso
Mas navegar sim
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