A quantas anda a sua pesquisa?
É essa pergunta terrível e assustadora, embora tão cotidiana, que vai se repetir
eventualmente conforme se desenrolem conversas eventuais ou fortuitas entrecolegas,
seja de mesma profissão seja de outras áreas. “Ah, vai bem”, “Ah, vai que é uma
merda”, “Nossa, descobri uma coisa inusitada mas não vou te contar senão você
rouba minha idéia!”.
Vai lá fulanis, fala sobre sua pesquisa.
É muito difícil falar sobre a própria pesquisa, mesmo quando
o subject de quem pesquisa é muito claro, a pesquisa deve(ria) sempre conter
alguma novidade, mesmo que com uma base sólida, de modo que uma pequena
novidade desencadeia, como um pavio, uma pergunta inquietante: mas por que
assim?
Mas por que assim? Quais são os autores, as referências da
sua pesquisa?
Olha, o subject navega por vários autores, tenho referências,
livros consagrados, teses aprovadas e citadas, artigos internacionais de
vanguarda, e mais ou menos experiência in loco, de campo, etnografia, bater pé
e levantar parâmetros de observação a partir de uma experiência in loco. E
autores que bateram lá suas pernas, realizaram viagens maravilhosas, e sínteses
invejáveis, de cidades e projetos.
Mas e a estrutura, e a estrutura da sua tese? Prefácio?
Capítulos? Quanto são?
A estrutura é um esboço que vai mudando, um texto contínuo
da pesquisa que vai sendo tecido e cortado e recosturado, patchworking, e cujo
andamento, ritmo, vai variar caso a caso. Escrevo uma tese, um artigo, um
poema, uma carta de amor, escrevo e erro, rasuro, cada coisa tem um tempo
diferente, e a estrutura vai se moldando, endurecendo ao mesmo tempo que não,
porque tudo que endurece demais quebra, então há de se manter flexível, como um
pinheiro se curva à tempestade, senão quebraria, anedota de merda, mas tão
verdadeira, eis que quebramos.