Tinham combinado apenas um café. Apenas isso. Naquele lugar
perto da praça, o dia estava bom, ainda era verão. Mas a coisa foi se
transformando. “Ta bom o café?”, “uhum”, e olhava para aquele rosto felino.
Tinha dificuldade em definir precisamente o que fascinava tanto, mas de fato
era felino, algo selvagem, indomável. E o rosto que admirava não se imaginava
belo, ainda que obstinado, não que isso importasse tanto, mas sim o que estava
além do rosto, que nele se afundava, um acento, os olhos algo tortos mas que se abrem como
buraco negro no qual talvez valha a pena se jogar, deixar-se arrastar pela
magnética gravidade, afundar num lago escuro e noturno de lua fria e águas
termais, o banho quente de dorsos nus emaranhados em meio ao vapor de névoa
quente e úmida de uma fonte termal, bocas e línguas e ouvidos, narizes pescoços,
que parte é essa, um ritmo lento, o som de pequenos grilos e outros insetos, o
encaixe fundo dos corpos lisos e molhados na noite fria e água quente, peixes
imóveis em si, rodando um no outro, as peles lisas e molhadas roçando, o cheiro
de mato e relva, amargor doce e suor, e beiços e tetas e línguas e peitos como
peixes, mas também cobras e sapos, um estalo, explosão.
Pagaram a conta, e a mesa ficou vazia.