Aqui no prédio em Saint Dennis, durante o
dia, alguém fica tocando um piano, bonitos acordes, sobretudo menores, algo
melancólicos. Toca alguém sem objetivo musical, só o lento ritmo de um mesmo
acorde, depois outro, como uma reflexão, introspecção, como a tentar lembrar de
algo, ou reforçando uma lembrança. Talvez os dois.
Lá no prédio onde moro, em São Paulo,
também durante o dia, estuda diariamente um guitarrista, velho de guerra
provavelmente, pela sofisticada improvisação das escalas de djéiz, poderoso
argumento.
Minha família é musical, poderia mesmo ser
a Fá Sol Lá Si Dó. Tenho muitos amigos músicos, jovens ou velhacos, excelentes
músicos. A música está em volta a todo o momento, em meio ao ruído das máquinas
e do sofrimento. Um mundo de música no silêncio distante do espaço sideral. A
sinfonia dos deuses, estrelas, constelações, não astronautas. Essa gratidão até
Nietzche concorda, penso eu.