Iconografia da arquiteta

couro de bolsa, vermelho sofá, 

flor de estampa, 

pele de coxa, 

marca de pinta, 

bota camurça, 

piso vinílico madeira clara, 

em suma.

Filhos da terra

As coisas amarram-se de tal modo,

amalgamamente,

desde que as linhas do tempo foram lançadas,

agora rede,

e já não mais possível contar os corpos na estrada,

que a estrada é mar,

e mar é pra peixe,

que já não se sabe o que vive,

o que morre,

e o que sobrevive literalmente,

entre zumbis e renascidos faustos,

quimeras e serpentes.

Todos filhos da terra propriamente,

que a Terra é sobretudo água e fogo,

magma terra, energia elétrica

e corrente.

Identidades

Meu nome é brasileiro,

vulgo paulista,

nascido em São Paulo,

criado na Zona Leste,

Zona do sol nascente,

na pacata Vila Ré,

Ré maior.

Meu nome é Brasil,

mas sou todo o mundo,

tanto que às vezes me confundo,

na multidão que em mim deita,

e nela me deixo levar.

Relógios

A bomba somente externa,

diferente para si própria,

algo que só quer explodir,

uma gargalhada,

um choro, uma raiva.

Vícios e maldições

Densidades promíscuas,

subterrâneas e malditas,

pois a água sempre escorre

mais ao fundo.

e cada ser tem sua paixão.

Caminho do meio

Razão e loucura,

Paranoia e esquizofrenia,

Ilusão e iluminação.

Minas d'água,

e minas terrestres.

Sofrer e morrer,

viver e sonhar,

porque a vida é sosofronhar!

Estrelas

Explosões intergalácticas

brilham a vida

enquanto queimam a si próprias.

tão grandes, tão pequenas,

distâncias cósmicas

entre abismos profundos.

Em'urbana

nada como afundar

a cabeça num livro.

Gambiarra

Aquela que ganha a guerra,

máquina de ranger,

matilha de gatos,

pulando dos lixos

e miando nos telhados.

Ternura

Seu corpo é lindo demais.

E olhar-te nos teus olhos,

e ouvi-la gargalhar, 

é por demais sublime.

Quatro zóio

Defeito de fábrica?

fotógrafo de nascença!

Desde que puseram-lhe óculos

pode ver o mundo pela janela dos aparelhos.

De fato um proto-ciborgue,

filho ou fruto, de uma máquina maior,

rede aparelhos infindáveis e invisíveis,

que pelos olhos enxerga melhor.

Grande é a imensidão do super-aparelho de galáxias.

Grande é a imensidão do infinito fragmento de partículas.

Médio é o entendimento e a apreciação cibernética,

dos extremos.