Da escuridão nasci, na luz do primeiro dia: é o desejo que começa, no fim do silêncio remoto.
Agora e sempre a vida brilha majestosa, a morte morre majestosa,
Dançando amantes, sinergia entre o silêncio e o crepúsculo.
Era peixe tanto em pai com em mãe: peixe gêmeo, pescador gêmeo.
Mergulhei em terra, transbordando de emoção pura e sincera.
E assim começa o festival de cheiros, sabores, texturas, visões, calores e tanto mais.
Nuances que expressam as esferas da vida: elípticas dançando no espaço-tempo curvo.
Alternar de gravidades, do grave ao agudo, do lento ao rápido, a equação em destaque.
Cheiro de grama e mato molhado ascendendo meu olfato lembranças de juventude.
Tantos desejos de novas paixões, do escuro a flor que brota das fontes jorram primavera,
Limiar da terra nutrindo a Continuidade.
É essa única essência que tu tocas, agora, em tais palavras que te olham, e observam.
Assim como entregam-te os livros essência, objetos transcendentais,
Onde conheci meu mestre, e os grandes mestres.
Pois grandes são os que nos guiam e orientam, andando à frente.
Do suor e sombra vejo em nós a silhueta de todo o universo.
Aurora de minha vida em tantas ondas de ser, agora partículas de mim mesmo.
Lá está Daisaku Ikeda, ainda jovem, andando na noite.
Eis que encontra seu mestre da vida, e lhe oferece o canto:
“Ó viajante, de onde vens? E pra onde vais?
"A lua desce no caos da madrugada, mas vou andando antes do sol nascer, à procura de luz.
No desejo de varrer as trevas de minh’alma, a grande árvore eu procuro,
Que nunca se abalou na fúria da tempestade.
Nesse encontro ideal, sou eu quem surge da terra”.
Lá está Walt Whitman, gigante do norte, grassando a grama do verão da tarde.
Noite em transe o forno escuro me assa, o pão da palavra.
Até o raiar do dia, silêncio abraça desejo, olhos mudos como bocas.
Aqui o visível beija o invisível, tão real, consumindo-o, tornando-se invisível.
E assim leio os mestres e sou eu mesmo que encontro: saio das trevas, da caverna de marionetes.
O dia me ilumina, e eu cego leio livros com os dedos e ouvidos, objetos transcendentais.
Sol, estrela querida, dádiva da nossa eternidade longínqua: metamorfose de um buraco, negro de possibilidades.
Para consumar-se
em chamas e beijar a entrega, o mergulho nas águas quentes do Eros,
A fluir até os confins do mundo, o gelo da morte, Tânatos, o inverno da vida.
Combustível do cosmos é o mesmo em meu corpo, teu corpo, a todo o momento pleno.
A vida nasce e morre, a morte morre e nasce.
Ouço os ecos de minha geração cantando de pés no chão as areias dos tempos.
Chico Science e Nação Zumbi: somos todos caranguejos, andando a passos lentos.
O som das multidões, a fervilhar em brasa, brilho de calor, ébano da pele de Ogum.
Metafísica dos opostos: o cientista mira o holofote, no mistério da vida: drama do ator subatômico.
Vem o artista! Olha o mundo na palma das mãos, e desenha a si mesmo como uma formiga lúdica.
A consciência expande-se e nunca contrai, já dizia vovô Einstein.
Mas memento respira, e talvez possa lembrar-se do brilho,
Da gota d’água escorrendo na pele morena da mulher amada,
Fim de tarde ensolarado, adorável crepúsculo.
À noite as corujas piam, mas se o galo canta anuncia: no oriente é dia.
A rede balança, também a joga o pescador.
Mesmo que o mar não esteja pra peixe, a gente persiste, insiste, até conseguir,
Que a rede é de Indra, e brilham os nós estrelas no céu.
E assim, no último suspiro de hoje, oro para que a escuridão cure as dores e o cansaço.
Silêncio do pó, que ao pó retorna e tudo cala.
Até findar o universo, em que o vento de todos os tempos em um único sopro se esvaia,
Acariciando assim a semente do primeiro broto.