30.12.15

resenha de Centauro




Monforte, tal qual esfinge, aquele Exu Egípcio, devir de encruzilhada, me propôs um desafio, talvez um enigma. Ou, antes, um exercício de reflexão, a partir da escultura Cavalo, de Vanderlei Lopes (2014), e do filme Andrej Rublev, de Andrej Tarkovsky (1966). Ocorre que a escultura do primeiro parece ter como referência a cena introdutória do segundo, onde um monge, após trepar num balão, contra a descrença, omissão e incredulidade da geral, sai voando desembestado, vendo o mundo por cima. Um vôo primitivo, de formas grotescamente cartográficas, mas que termina em queda, invariavelmente. Então o que se vê não é um destroço de gênero humano, mas sim um cavalo em posição pouco comum, deitado de costas, como a coçá-las, preguiçosamente espreguiçando-se. Macunaíma do Oriente. Na sequência, o monge caído jaz zonzo, junto ao expressivo balão que, murchando nos panos costurados, oscila um desabafo inevitável, tal qual uma baleia Caxalote Frankstein que encalhasse na praia.

Daí começam os oito contos do monge que, jogado ao mundo secular, perdeu a fé, e, por 16 anos, faz voto de silêncio. Manteve-se irrevogável de prostrar som com a boca até que uma “iluminação”, expressa no gongo de um sino duramente escupido, pusesse algum sentido em suas idéias. Do primeiro conto, O Bobo da Corte, como a carta 0 Le Fou do Tarot de Marselha, até o 8º, O Sino, como a carta XX Le Jugement, ou o filme homônimo, Primavera Verão Outono Inverno Primavera, de Kim Ki-duk (2003), adentramos a festa divina expressa na experiência humana das frestas, parafraseando Luiz Antonio Simas, cheias até o talo de sofrimentos da carne e perseverança do Espírito, por assim dizer. “Não se samba porque a vida é mole. Se samba porque a vida é dura".

Para Tarkovsky, a vida de Rublev poderia ser definida a partir de uma epígrafe, parte de um diálogo entre mestre e discípulo registrado no romance O Jogo das Côntas de Vidro, de autoria de Herman Hesse (p. 57): “A verdade é vivida, e não ensinada teoricamente. Prepara-te para as lutas, José Servo. Estou vendo que elas já principiaram”.

29.12.15

Bichos


Fauna
Flora
Fortuna

23.12.15

Cú riscado


Corisco
Sussuarana

Pêlo diabo
Bicho do cão

Diadorim

Divinas tetas


Pedrinhas
Gotinhas

e labaredas

19.12.15

Arpejo


Arcanjo
Cachoeira
Combo

Alaúde
Violão

18.12.15

Cangaço


Na noite longa e escura
bússola é Lampião

a rosa é Maria Bonita

aluar
e o sertão

17.12.15

Alambique


a colheita já foi feita
cabe agora destilar o néctar

10.12.15

Beijo fatal


Vênus Leão
Marte em Escorpião
o amor e a treta

Atenção


Idéia certa
lugar errado
desconfia
cuidado!

9.12.15

Céu do Firmamento


Pássaros de cosmos
Quânticas janelas
de vida Gravidade
Morte, e Luz

mais uma estrela

bater de asas
entre ondas e partículas

para Romy Schinzare e Suellen Siccotti

jogo de filacantos

Mudra pornô


Pau nu,
seus cú

30.11.15

Notas de um sonho


Grosso colar de ouro com amuleto do Sol. Apesar de achar que não combinava comigo, coloquei-o no meu pescoço.

Encontro de amigos numa casa. Ficamos pelados, tirando onda. Sento num sofá com um casal. Uma mulher linda, gostosa e pelada vem e senta no meu colo, põe a bunda quente e macia na minhas coxas. Fartas e duras tetas. Mas suspeitei que ela não sentou “na maldade”, pelo sexo, só sentou pra conversar mesmo, de modo que me limitei a sentir o prazer do toque da sua pele e do contato com seu cheiro, passando meu braço pela sua cintura. Continuamos conversando com o outro casal. Em outro momento, já não mais no colo, a gente se beija, e depois pergunto pra ela se na hora em que sentou no meu colo ela queria ficar comigo. “Aquela hora não”, respondeu.

A polícia invade a residência, tocando seu rotineiro terror, e temos que fugir pela cerca dos fundos.

Reencontro meu irmão, que já não vejo há alguns meses, numa roda de amigos. Mas o rosto dele estava diferente: era simplesmente outra pessoa. Mas reconheci meu irmão. Sem conseguir me controlar, comecei a chorar compulsivamente. Porém, pensei que não retomaria meu relacionamento com ele, a menos que ele garantisse que teria respeito pela nossa irmã.

Sono de segunda feira, 30 de novembro de 2015, manhã, até 13:30h.

Carta 1 do Tarot Furtado da noite anterior - XII - Le Pendu, O Enforcado

23.11.15

Caseiro


Dono de casa
Cão de guarda
Pesquisador acadêmico

e Oráculo vernacular

18.11.15

Babilônia


Livros Pixações
A cidade um muro aberto
Para malandras e ladrões
Dançarem no deserto

E entre muros e paixões
Desenhar caos no perigo 
e os recomeços na sola do pé

aventurar-se no Desejo

13.11.15

Batom


borrarrrr
miau
bye bye

11.11.15

Taco de bilhar


boca da caçapa 
cutuca a onça
bico do corvo
 com a vara curta

na mesa bola branca
canta bola no canto

se cair a branca
coração partido

é desencanto

Le Fou


O louco tem uma rosa na boca
e um cachorro mordendo a perna

27.10.15

de uma máquina de escrever


a tela do computador
cheia de poeira
o teclado também
não são muito diferentes

25.10.15

Ameríndio


Branca pele
Vermelho sangue
Coração negro

20.10.15

Escriba da Luz


Fotógrafo
piloto, artífice, mecânico
cozinheiro, franco-atirador
tantas outras taras

Entre lutas e peregrinações,
Forjado nas profundas artesanias
de um laboratório fotográfico

Essa caixa preta de Pandora
caverna de alquimistas iconófilos
Labirinto de Faunos

para Luiz Guimarães Monforte

Outeiro da ermida


Altar da capela

19.10.15

Quando o destino significa beber


toda garrafa de whisky

14.10.15

sob nossos pés


o probrema não é só a falta d'água
da Cantareira que vêm de longe
o probrema é não ver a água 
que debaixo da rua passa

Pombas


de pedra selva mar
de carros ratos asas

músicas provocam diáspora
ondas labirintos de pássaros

jogo de filacantos

Divindade cosmopolita


Deus quer intercâmbio

Deuses coabitam, se encontram

Deusas dançam

12.10.15

Meio de campo


No rastro da cobra
No bico do corvo

A boca de um lado
O cú de outro

9.10.15

Déficit de atenção


vou fazer uma coisa
faço dez coisas antes
volto à estaca zero
lembro que não fiz a coisa inicial

7.10.15

Mamelonar


Mar de morros, colinas
Chapadões, planícies
fluviais, altas "cuestas"
Serranas, escarpas

do Mar à Serra
Sagrada
Malemolência

para Aziz Ab'Sáber

4.10.15

Escafandro


ventre língua
fundo do mar

gaivota
borboleta
beija flor

mergulhar

2.10.15

Córregos submersos


um dia quebram todas caixas de concreto

Via Cursis


Prorrogação
Espera
metamorfose última

Vida sacra
silêncio

Morte súbita

para Mathieu Delaraue e Pato n'Água

28.9.15

Desenlace


Zona de Litígio
Ruidosa e suja
Filosofia, Desencanto

Conforto Mágico

25.9.15

"olha co'zóio, lambe com a testa"


escuta a voz
enxerga o corpo

olhos nos olhos
penetração

para tia Marva

24.9.15

Visceral Silence


Caixa de Pandora quando abre
arrevoada de corvos

e despertar de outras bestas

para Fernanda Prieto

18.9.15

Katóptrico


EsdrúXulo
teatro de espelhos

17.9.15

Notívago


quando a noite é maior que o dia

14.9.15

Anônimo


Isento de ânimo

(que anima a pele)

12.9.15

Piano Bar


Playboys velhos e putas de luxo
glamour e decadência
tudo junto

para Pedro Assad

Estrela cadente


Desperdício
Precipício
Meteoro caindo

Na atmosfera
Incandescente
atrito

5.9.15

Medusa


A serpente
A ser pente
penteou
os cabelos de cobra

Picareta
Martelo e cinzel
Pietá

4.9.15

Constelação das águas


A bacia hidrográfica
é como um mapa astrológico
do lugar onde você mora

2.9.15

Anagrama quase


Contrapropaganda
Pornochanchada

1.9.15

O franco-atirador compulsivo


definiu o alvo
mirou
e atirou pra tudo que é lado

Helicóptero psicodélico
Ventilador do asfalto

para Luis Buñuel

23.8.15

Codinome

Por mais badass que seja,
a dor começa por se mostrar insuportável
a partir do momento em que se diz:

ai

28.7.15

Picadeiro


Bêbado
Equilibrista
palhaço
domador

e fera domada

26.7.15

As aves cantando diásporas


Ah, decisão!
Está decidido!
O dia em que eu morrer vai ser exatamente assim!

Domingo de manhã,
depois da madrugada,
a feira da Major Quedinho
além do crepúsculo sepulcral

Na esquina,
um quarteto de góticos me encara

E na feira vou adentrar,
em busca de dois pastel de pizza e um de frango e catupiry!
E o caldo de cana, que me oferece a dona Maria José, a Zezé...

“Vai querer como?
Com morango, manga mamão cajá, gengibre agrião? Vai querer como?”
“Ah, quantos sabores tem Zezé! Faz uma surpresa pra mim!”
E ela me surpreende! Mas surpreendo ela espiando:
“É Maracujá? Não? É Cajá!? É?!??”
Que delícia o caldo de cana com cajá!

Volto pra casa, fadigado,
mas com três pasteis e dois litros de caldo de cana e uma Zezé magnífica
As aves gralham resplandecentes ao sol da manhã, céu claro e esbranquiçado

Quando eu morrer vai ser assim,
domingo de manhã,
depois de três pastel e dois litro de caldo de cana,
e tenho dito

23.7.15

um peso duas medidas


antigamente as pessoas andavam na rua falando sozinhas e eram consideradas loucas, camisa de força e o escambal

hoje as pessoas andam na rua falando sozinhas, com seus microfones de celular, e todo mundo acha normal

a loucura só é um problema quando praticada por uma minoria, alguém marginal

13.7.15

Violino, alfinetar


a costureira afina seu instrumento
tecido da vida, véu da morte
vida vivida

Máquina de tear

para Suellen Ciccotti

3.7.15

Nada, Mar


Criaturas nadam fluxo
peixes todos somos

Calvário


Tem algo de Cristo
no modo em que
catadores de lixo
carregam seus

carrinhos

2.7.15

Ser humano alienígena


a arte também é científica. Por exemplo, o filme HER comprova, através de uma narrativa fictícia, que é possível uma pessoa se apaixonar por e amar uma máquina abstrata

1.7.15

Morrer de pé


Frugal
Fulcral
Badass

para Barba Branca, grande pirata, Bruno Fernandes, Daniel Zaidan e Heraldo Borges

19.6.15

Et Caterva


Amor é uma jóia que você guarda num castelo

(se de areia, de cartas,
com ou sem passagens secretas,
túnel de fuga, a própria Terra,
não interessa)

ou num esconderijo,
mapa do tesouro,
costurado à roupa do corpo

Amar é guardar uma jóia que você pole,
lapida, ou um castelo que você constrói.
Até a morte?

Mesmo sabendo que, no fim, tudo dá em nada,
do pó ao pó,
"roubaram meu anel",
etc

Porque o fim não interessa,
só a si mesmo,
interessam, sobretudo,
os meios

para Claudinho de Oliveira, Suellen Siccotti e Kazimir Malevich

16.6.15

de tanta paixão

Ela mordeu o pau dele como se fosse uma salsicha
Ele, sabendo do fim iminente frente à hemorragia,
Mordeu o pescoço dela, aquele cangote cheiroso,

Como uma última rebeldia

10.6.15

do Viaduto


de abrigo e desamparo
o gesto duplo
de quem mora embaixo

29.5.15

Lágrimas


podem ser pérolas
podem ser pedras
dados a rolar
da fortuna e da miséria

7.5.15

Mutações


encontrar o positivo em tudo que existe,
das belezas simples às sublimes,
à selva de pedra e o cheiro de esgoto

quando o contrário do positivo não é o negativo,
apenas o potencial de devir,
tornar-se

29.4.15

Macho Alfa X Mano Zika


Macho Alfa era forte, musculoso
e o dedo nervoso ainda tinha
quando encrencava era bicho solto

Mano Zika tava lá na sua
pra cima dele o outro foi
mas tinha um buraco embaixo do tapete

um compra briga
o outro é armadilha!

31.3.15

Pequena história sobre a burocratização da vida


Certidão de Nascimento

Carteira de Vacinação
Registro de Identidade
Histórico Escolar
Título de Eleitor
Certificado de Reservista Militar
Cadastro de Pessoa Física
Carteira de Habilitação
Carteira de Trabalho e de Previdência Social
Holerites
E tantos outros documentos, até a

Certidão de Óbito
e quem sabe um best-seller épico

26.3.15

Andando na rua, frases soltas ouvidas ao léu


"e aqui é onde a galera fuma"
(moça apresentando o lugar para a amiga,
na Rua Maria Antônia, calçada do TUSP)

"quando o Rogério se aposentar..."
(Ceni, imagino)

"a sua chegada causou furor na equipe"
(galera da lotação, metro Patriarca,
rapaz falando para uma mulher bem maquiada)

19.3.15

Cascavel SP


onde tudo é negociável
factível de invasão
atacável

18.3.15

Piloto de fuga


entre correrias e freios de mão
nóis vamo levando
se pá, de vez em quando
um cavalo de pau

10.3.15

balanço do dia sobre processo democrático e jogo político


a Dilma foi reeleita, o Alckmin foi reeleito (sem falar de outros estados), o Eduardo Cunha Evangelista foi eleito (indiretamente), o Maluf tá bemzão, o José Sarney tá véi mas tá ai; uma patota de direita e de esquerda foi eleita; o Estado brasileiro Policial Militar e a indústria internacional das armas, construtoras, farmacêuticas etc vão muito bem, obrigado; não precisamos nem falar da Educação, enquanto os filhos dos políticos não forem para escolas públicas, o mesmo valendo para o sistema de Saúde; e a gente continua exportando gênero primário à rodo e à seco, literalmente (que a água tá sempre acabando nesse país, ou sobrando sem dar pra beber ; )



...


causar um furdunço e conseguir desaparecer na multidão é uma arte que poucos malandros conquistam. O velho Geraldo Vandré, autor de marcantes canções, em recente entrevista para o jornal globo news, (vestindo camiseta da aeronáutica) disse: "protesto é coisa de quem não tem poder"...

...


o que é muito prático dessas discussões de rede social é que teríamos que estar trabalhando, todos nós povão, mas estamos todos discutindo política no feicibuk por meio das nossas baias de trabalho ou dos nossos celulares hipermodernos, e procrastinando o máximo possível, principalmente eu. Me sinto ao mesmo tempo um guerrilheiro cibernético, um macunaíma pós moderno e um cidadão da democracia ateniense, saudosa cidade-estado do trabalho escravo (essa zoera é uma ironia ; )

Frases soltas, ouvidas ao léu, andando na rua


“Ter medo de revólver e de agulha é a mesma coisa”

“Leão de Judá!” (para mim, na época das longas madeixas ; )

“era pra ser empate, mas sabe como é, jogo é jogo”

“... e por causa dessa bobeira, meu sobrinho teve que amputar o pé”

Sampa 3 Lugares


Centro Velho novo, dia e noite
Permeabilidade e vida pública

MASP velho, subterrânea passagem
MASP novo, mirante voador
ironicamente, museu privado

Roosevelt
de antipraça militar à palco de paixões
Dona Rose, Rosa dos Ventos

em pé de igualdade


Lágrima
Merda
Suor
e Sangue

9.3.15

Neblina


Fogo de gelo
Água de fogo
Magma luz

Horizonte do mar
Fundo do céu

Constelações em grãos
Cristais de areia

Dimensão Dô


Silêncio
Segredo
Sagrado


e Festa

8.3.15

Teu nome

palavra mágica
movimenta
maravilhoso corpo
tua chama

suor e brilho
beleza e cor

para Barbara Freitas

1.3.15

Corcéis corsários

Caçador raposa caça, dor
Cavalos negros e navios piratas
Mulher menina e o velho, mundo
Vagabundo, siameses gêmeos


para Juliana Okuda, Aldir Blanc e João Bosco

9.2.15

Pérola negra

Leviatã
Carta de amor

leve de ler
pesado diamante

garrafa jogada ao mar
provoca tsunamis

para Andrey Zviáguintsev, Mari Puglisi e Maria Bethânia

5.2.15

Arvoredo


O tronco é nosso
mas ela é os galho'
eu sou as folhas

ela terra e água
eu sol e vento

ela semente
eu... arrebento!

4.2.15

Ensejo


Enlevo oportuno
Obscuro desejo

para Isabela Penov

1.2.15

Sezão de falenas


Debaixo da ponte
Ardente febre e ardil
Música das Arábias

Dilúvio de borboletas
Entre procelas e falésias
Do deserto rubro e ruge

O céu que nos protege


para João Bosco

28.1.15

Totalitário, vai Brazil!

Teoria da conspiração do dia:


A falta d'água vai gerar uma louca demanda por caminhões pipa, o que por sua vez vai girar a indústria do petróleo, sem por em xeque a agricultura de exportação e demais mazelas!